12.29.2004

De Novo? Essa nao!!!!

É, aconteceu de novo: estou sem internet. Aqueles malvados da utaonline...só porque eu ultrapassei meu limite mensal de 3 Mb para 4Mb... Feiosos.
Bem, entao fica assim: eu passei para dizer que nao venho. Quer dizer, venho sim, mas só ano que vem, ou assim espero, se nao acontecer nada realmente catastrófico. (ja falei pra voces que o bonitao quase colocou fogo na casa e explodiu o televisor? Fica pra proxima.)Menos mal que o ano que vem ta logo ali...Enquanto isso, vou fazer trico e ler um pouco, pra variar.
Os meus votos pra voces em 2005:
Boas entradas. E por favor, boas saídas também. Já estou com saudades, snif, snif...
ADENDO IMPORTANTE: Os usuarios da casa ja estao sabendo, mas a quem vem pela primeira vez, fica o convite para o CLUBE DE LEITURAS: Passem no LLL (O endereco esta ai do lado: O Outro Alexandre:LLL, sorry, nao consigo fazer o link), aposto que voces vao gostar da ideia. Assim que der, escrevo mais sobre o assunto.

12.27.2004

Sobre Cachorros e Bebês

Que a Europa além de ser o Velho Continente é também um continente de velhos, todo mundo já sabe. Encontrei na internet dados que indicam o n° de 1,5 filhos para cada família. A média considerada ideal é de 2,1 filhos por casal. Aqui, o governo faz uma campanha de incentivo, com ajuda financeira (cerca de € 416,00 ), valor que aumenta à cada filho.
-Filhos são poucos, mas cachorro, eu vejo muitos. Inclusive cachorros passeando em carrinhos de bebês. Lembro sempre do Eduardo Dusek .
-O cuidado com crianças aqui não é um fato que diga respeito somente às mães, como geral e majoritariamente acontece no Brasil. O n° de pais que saem com as crianças, levam-nas a passear, ao médico, à escola, vão a reunião de pais, etc, etc, é quase igual ao n° de mães. Homens com carrinhos de bebês ou acompanhados de crianças maiores a caminho do supermercado, na fila do banco, ou simplesmente a passear indicam que – pelo menos visual e teoricamente - a responsabilidade com o cuidado dos pequenos é compartilhada.
- É comum, infelizmente comum demais para meu gosto, encontrar cachorros e seus respectivos donos em restaurantes, bares, ônibus, bondes, shoppings. Não, eu não me acostumo com isso, ter que viajar ao lado de cachorros ou vê-los ali, ao meu lado na mesa que reservei para o jantar...Por outro lado, acho surreal olhar pela janela e ver pessoas passeando na neve com seus cachorros
-Também não sei o motivo, mas raramente vejo bebês chorões. A princípio achei que talvez a maioria estivesse hibernando, afinal estamos num pais de clima frio. Mas não, vejo-os acordadinhos e calminhos. Outra coisa: as crianças aqui, desde novinhas, não correspondem àquelas brincadeirinhas típicas, tchauzinhos, nhenhemnhem e nhamnhamnhans. Eu às vezes sorrio para algumas nos ônibus e elas ficam me olhando, sérias. Me sinto como se tivesse levado um tapa na cara. São crianças, digamos, mais reservadas, se comparadas às nossas. Há exceções, é claro
- É raro, muito raro encontrar alguém, pai ou mãe, com um bebê no colo: estes estão sempre nos carrinhos. Ocasionalmente, vejo um dos pais com aquelas bolsas tipo canguru, onde o bebê vai a tiracolo. Mas é mais usual entre os estrangeiros, especialmente as africanas. Talvez seja essa falta de contato físico que explique o fato dos bebês não serem tão chorões. É, acho que é isso sim: nossos bebês, os brasileiros, choram mais ao se verem privados do contato. Se bem que então eu não consigo explicar os berreiros daqueles que vão nos colos dos pais. Ah, deixa pra lá, de bebês eu não entendo nada mesmo.
- Os ônibus e bondes tem lugares reservados aos carrinhos de bebês. As novas frotas já vem com um vagão especial sem degraus, onde o acesso é mais fácil. Quando não, e as escadas poderiam ser um empecilho, o motorista sai de seu lugar e ajuda o responsável a entrar no vagão. Devido à essa praticidade, as crianças utilizam o carrinho até os 4 anos (ou mais).
-Eu tinha mais alguma coisa para falar sobre cachorros, só que esqueci.

12.24.2004

Natal

Pois eu A-M-O o Natal. Das minhas melhores recordações de infância, fazem parte uma caixa que minha mãe deixava em cima do guarda-roupas: era lá que estavam os „enfeites de Natal“, com as bolas super frágeis que deveriam ficar fora do nosso alcance, mas nós sempre dávamos um jeito de alcançar – eu pelo menos: quando minha mãe não estava por perto, eu ia lá e ficava mexendo na caixa, amava aquilo, amava, amava, amava. E no final, sempre deixava uma das delicadas bloinhas cair no chão. Sinal de que eu ia apanhar...
.....................................................................
Minha mãe normalmente improvisava nossas árvores: como ela sempre gostou de plantas - e sempre as tivemos muitas – uma delas era a escolhida para ser a „enfeitada“. E até hoje eu acho bárbaro fazer neve-de-faz-de conta-de-algodão, guirlandas e o que mais vier. Morri de inveja da Nanda, ai como eu queria estar lá...
.................................................................
Este é também o primeiro Natal sem meu pai , o terceiro sem mim. Fico imaginando minha mãe tão triste, tenho um sentimento de culpa me atropelando. Mais um motivo para querer estar lá. A filha ausente. Sempre a ausente.
....................................................................................
Aqui nós usamos pinheiros de verdade. Quase arrumei confusão com o bonitão: da minha família, trago o costume de montar a árvore de Natal no primeiro domingo de dezembro. Aqui, o costume – pasmem – é montar a árvore no dia 23 de dezembro. Eta, povim bárbaro. Bati pé, quero, porque quero: não foi no 1° domingo do mês, mas pelo menos a minha árvore já está pronta desde o domingo passado.
...................................................................................
Também já mandei os presentes para o Brasil, e sei que eles chegaram. Já me dei alguns presentes (que ainda não chegaram) e hoje, mais outros: estou me enganando que sou fluente em alemão; então me dei a „Montanha Mágica“, que custou €13,00 e - nossa, agora eu TENHO que ler - e comprei 4 volumes, encadernados em capa dura, dos russos: Dostoiewski, Tolstoi, Gogol, e Puschkin. Bestinha.
.................................................................................................
Plágio: colei (mais ou menos) do Alexandre, do LLL:
Tem gente que não gosta de Natal, não acredita em Jesus, não gosta de comemorar a data. Tudo bem, cada um com seu cada qual, né? Pra esses, eu desejo uma boa noite. Sim?:)
E para aqueles que gostam da data, dos votos, dos cumprimentos, eu desejo um grande e realmente FELIZ Natal. E uma boa noite também, por que não?
Ah, sim:
Por favor, não se esqueçam do aniversariante, certo?



12.23.2004

Scheiße

Acabei de ler no último segundo que as mulheres magras devem morrer antes das gordinhas. Tô ferrada.

12.21.2004

Frio

Considerações Sobre o Frio:
* CONSIDERAÇÃO PRIMEIRA E ÚNICA:
Fazer frio, tudo bem. Mas fazer frio e ventar ao mesmo tempo é sacanagem.
Conclusões sobre o Frio:
* CONCLUSÃO PRIMEIRA E ÚNICA:
Geladeira: 7°C
Lá fora: -7°C.
Então, você conclui que está frio, mas muito frio mesmo, quando vindo lá de fora, pega a cerveja que está há dias na geladeira e tem a certeza de que ela está quente.

12.19.2004

Elas Mandam Bem. E Rápido...

Ou sobre a minha lentidão
Estou me sentindo a lesma grávida: ia escrever sobre o IKEA, a Maria escreveu antes. Ia contar pra vocês que eu não sou eu, a Mônica postou coisa parecida antes. Ia contar sobre as piores notícias que li (a pior notícia- recente - que me lembro de ter lido na minha vida foi essa aqui. Hoje, li essa também. Por favor, se vocês souberem de coisa pior, não me contem), mas não consegui fazer o link direito, aí a Denise escreveu antes. Hmpff, assim não dá, né meninas:)
Suas, suas, suas...competentes.
ADENDO: As piores notícias recentes falam sobre os bebês sequestrados ainda na barriga da mãe. Não consegui colocar os links, mas vocês devem ter lido na imprensa a respeito. O 1. caso aconteceu na Colombia, e o mais recente nos EUA. Osl inks:
”//ultimosegundo.ig.com.br/materias/mundo/1639501-1640000/1639639/1639639_1.xml/
e também:
”http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2004/12/041218_fetoaw.shtml/

12.18.2004

Diferenças Entre Brasil e Áustria?

O assunto já está meio velho, mas ainda provoca discussões acaloradas. No últmo Pisa-Studie – avaliação de ensino feita entre estudantes de 13/16 anos – referente aos anos 2000/2003, a Áustria teve um desempenho desastroso: de 8°, passou para o 20° lugar. A pior qualificação veio em Matemática, seguida de Ciências e por último, compreensão oral e escrita da língua. Os alunos foram qualificados de analfabetos funcionais – gente que lê e escreve, mas não tem noção do que leu ou escreveu.
Em tempo: os melhores resultados ficaram com Finlândia, Japão e Coreia, sucessivamente. Em 2000, a ordem da lista era Finlandia, Japão e Coreia.
........................................................................................................
O marido austríaco de uma amiga foi à São Paulo. Em uma churrascaria, descobriu o sistema de placas verdes e vermelhas (quero mais comida/ dispenso mais comida - se é que entendi, não sou versada em churrascarias !). Ficou absurdamente chocado ao descobrir o funcionamento: o cliente prova um pedaço da carne, não gostou, deixa de lado, pede mais uma picanha, não gostou deixa de lado, prova um pedaço de frango, deixa de lado, pede mais não sei que, não gostou, deixa de lado, etc, etc.
-„O que é feito da comida que as pessoas deixam de lado?“, pergunta ele.
-„Ora, o restaurante joga fora“, responde alguém.
Comida, aqui na Áustria, é coisa sagrada, principalmente entre a população mais idosa. Mesmo as pessoas da nova geração refletem esse comportamento: gente que viveu nos tempos da guerra, sem ter o que comer, sabe bem o valor de uma refeição, e ensina isso aos filhos.
........................................................................................................
Houve uma época em que eu estava viciada em salada de trigo. Minha mãe apelidou de comida de passarinho, e dizia:
-“Se você continuar comendo pouco assim, seu estômago vai acabar diminuindo, você não vai mais conseguir comer direito...“
Não conheço nada que dê embasamento científico, mas mãe é mãe, né:), acho que ela acertou: não consigo comer muito, ainda que eu gostasse (e eu gosto), meu estômago simplesmente não aceita. Então, encarar menus como os que são servidos aqui, é um pouco demais para mim.
Certa vez, logo depois de minhamudança, cometi o pecado de pedir o menu, ignorando o que havia incluído: sopa, salada, um prato a base de ovos e carne salgada, um outro prato que não me lembro e de sobremesa, Strüdel. É claro que ao fim da sopa já pedi para jogar a toalha. A dona do restaurante me olhou chocada e balançou a cabeça, repreensivamente. O bonitão tentou me salvar, comeu minha porção além da dele, explicou para a dona que eu era brasileira, ainda não acostumada com a comida, etc, etc. Mas aos olhos dela eu era a DESPERDIÇADEIRA.
...........................................................................................................
Aqui há uma loja de origem sueca chamada IKEA, o jardim de infância dos adultos. A Maria do Montanha Russa escreveu um post falando justamente falando sobre essa loja, e o título é um dia na Disneylândia sueca. É o paraíso do consumo, e eu confesso que adoro ir lá. Um passeio no IKEA aos sábados , aqui em Graz, convence você – brasileiro inexperiente - de que a população austríaca não tem móveis em casa. As filas são imensas, os preços convidativos, e o design costuma ser muito original. Talvez ppor isso, sem exagero, as pessoas trocam de móveis praticamente a cada ano. Móveis NOVOS são trocados, eu quis dizer, a tal ponto que é comum virem pessoas mais pobres dos países vizinhos recolher e revender em seus países.
O bonitão mesmo tinha um guarda-roupas lindo. De madeira clara, pertenceu ao avô dele, mas ainda estava novinho, novinho. Trocou por outro do IKEA. Eu furiosa, fiquei pensando: „Que DESPERDIÇADOR.“
.................................................................................................
Quantas diferenças, não...?

12.17.2004

Pessoas que vêm:

Míriam, obrigada pelas palavras doces. Acho você, sim, gentil, corajosa e muito, muito bem humorada!


12.15.2004

Pensamento do Dia

Sobre as Heranças

Com tanta, mas tanta coisa para eu herdar do meu ídolo , fui herdar logo as vírgulas. Por qual motivo, meu Deus? Não, antes que alguém diga alguma coisa, eu amo as vírgulas, se não, não as usaria tanto: elas estão espalhadas caoticamente por tudo o que o que escrevo. Salpico vírgulas desmedidamente. Demais. Mas preferia ter herdado outros talentos.
Ah, dispenso comentários debochados, sim☺



12.14.2004

Notícias de Mim

Ou: Ninguém perguntou nada, mas eu vou dizer.
Pois sendo:
Minha lista de presentes original era assim:
Lista de Presentes
1 - CD: Bloco do Eu Sozinho - Los Hermanos
2 - CD: Bonança - Los Hermanos
3 - Livro: Rosário de Minas - Memórias e Sugestões, Octavio Mello Alvarenga
4 - Livro: Como e Por que Ler os Clássico, de Ana Maria Machado
5 - Grande Sertao Veredas (pode ser de sebo, viu?)


Eu já ganhei:
1-PERDAS E GANHOS -LYA LUFT.
2-OS CUS DE JUDAS -ANTONIO LOBO ANTUNES
3-SE UM VIAJANTE NUMA NOITE DE INVERNO- ITALO CALVINO


Ainda vou ganhar:

4 - Livro: Como e Por que Ler os Clássico, de Ana Maria Machado
5 – Os 2 CD’s dos Los Hermanos, inclusive o que não é Bonança e sim Ventura (obrigada, Barbra Brusk).


Fui eu mesma que me dei. Os livros estão à caminho, ela já me mandou (mas ainda não chegaram. E eu, bobona, achei que o frete do Submarino ficaria mais barato para o Brasil e de lá em remessa particular para a Áustria. Não contava com o aumento de tarifa dos Correios, aqueles astuciosos). Mas como eu ia dizendo, fui eu que me dei os presentes. Quero tornar público meu agradecimento. Obrigada, Felicia. Se todos me amassem como você, meu mundo ficaria mais completo.
.x.x.x.x.x.x.x.x.x.xx.x.x.x.x.x.x..x.x.x.xx..x.x.x.xx.x..x.x.x


Ninguém perguntou nada, mas eu vou dizer II.
Pois sendo:

Meu nome é Felicia Luisa. Sem acento em nehum dos ii. Não é por nada não. Mas eu queria que vocês soubessem...

12.12.2004

Hoje

Finalmente nevou, e eu amo neve: em filmes, livros, gravuras. Até mesmo ficar olhando pela janela enquanto os flocos caem eu acho bacana. E só. Mais que isso é masoquismo.

12.11.2004

Últimas notícias da Áustria

Acaba de ser confirmado pelos médicos austríacos: Yushchenko, líder e candidato da oposição na Ucrânia, foi realmente envenenado.
Fiquei sensibilizada com o drama pessoal desse homem, imagine, ser envenenado, que coisa mais impensavelmente fora de moda, tão fora de moda que nunca imaginei que alguém ousasse fazer isso com uma pessoa qualquer, quiçá com um político famoso.
O pior é a paranóia delirante em que ele deve estar vivendo. Coisas simples, como acordar e desejar müsli no café da manhã se tornam um verdadeiro drama. Por exemplo, ele olha detalhadamente a maçã e começa a ter pensamentos desconfiados a respeito: „Hmm, essa maçã não me parece muito saudável“. Então opta por um simples pão com café. Mas o pó de café pode ser mais perigoso do que aparenta, vai lá saber. Assim, ele decide tomar café na padaria do português Joaquim, imigrante há mais de 60 anos na Ucrânia, que o conhece desde que ele não era um político famoso. E quem poderá garantir que o português também não foi cooptado? Yushchenko decide então ir para um bairro desconhecido, fazer o desejejum num lugar qualquer onde ninguém pode imaginar que ele iria alguma vez. Mas como esquecer que os ucranianos estão ali, tete-a-tete com os russos, os melhores enxadristas do mundo, gente acostumada a raciocínios difíceis? Certamente que essa hipótese, todas as hipóteses já foram pensadas pelo inimigo.
Pronto, a paranóia está instaurada. Como se ver livre desse pesadelo? De qualquer modo, já se passaram mais de 18 horas desde a hora em que Yushchenko acordou, ele provavelmente desiste do café da manhã e começa a pensar no jantar. E o círculo está instaurado, o drama de ter que decidir o que comer e em quem confiar se repete.
Pensei em ajudar de alguma forma, e a única coisa que me ocorreu foi passar para ele o telefone daquela moça, jurada do Sílvio Santos. Não sei bem se era a Mara Maravilha ou Sol, a que só se alimenta de luz. É sério, viver em paranóia é fogo.

12.08.2004

Fechado para balanço

Motivo: libriana em crise. Reabre amanhã. Librianos como eu sempre mudam de idéia. Só não decidi ainda qual idéia a mudar...

12.05.2004

Meu Pai

Hoje é também aniversário da morte de meu pai.
Há quatro meses ele partia, não sei prá que destino.
Existe uma lenda que diz que as pessoas, quando morrem viram estrelas. Será?
Não sei, só sei que sinto a falta dele como nunca achei que fosse sentir. Tälvez porque tenha me preparado tanto para o dia em que ele fosse embora, já que ele estava adoentado, eu não tenha sentido um baque tão grande no momento. Mas agora...
Sabe, ele não era lá uma pessoa de muitas palavras. Sempre calado e, como ele mesmo gostava de se definir, muito "sistemático". Mas era uma boa pessoa boa, meu pai.
A gente tem sempre a mania de "endeusar" os que partem, mas não é isso o que quero fazer. Sei que meu pai tinha seus defeitos (vários), mas não posso me esquecer das boas coisas que ele me ensinou. Sabe, aqueles valores que você carrega para toda a vida, como ser bem-educado, tratar todos como um igual, não querer ser superior a ninguém, não desmerecer ninguém, compartilhar sempre.
Existe uma frase de que ele gostava muito: Fazer o bem sem olhar a quem.
E, sendo homem de pouca conversa, mesmo não sabendo como levar um bate-papo, ele conseguiu me incutir tantas coisas boas...
Hoje sinto saudades dele, como se sente saudade de algo que não se viveu em toda sua plenitude.
Bom, se ele virou uma estrela, tenho certeza de que me guia pelo caminho.
.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.
Copiei esse texto da minha irmã.

Krampus, Natal e Dia de Reis

Hoje é o dia do Krampus aqui por estas plagas. Me lembro de ter lido a 1. vez sobre eles em não sei mais qual livro, muito e muito tempo atrás. Era a história de um médico n*azista, responsável por vários experimentos cruéis e mortes nos campos de concentração e que ao fim da guerra foi se esconder numa pequena cidade europeia, talvez na Alemanha mesmo, não me lembro. Mas nesta cidade, foi reconhecido por sobreviventes judeus que arquitetaram o plano de matá-lo para se vingar. Para isso, esperaram o dia 05 de Dezembro, se fantasiaram de Krampus, e foram atrás do médico, que se não me engano, foi morto a pauladas. Vou perguntar para minha irmãzinha o nome do livro, e quando souber, digo aqui.
Sobre os Krampus mesmo, e suas origens, fui pesquisar no Google, mas não encontrei muita coisa. Eles são algo como os assistentes de Papai Noel. Só que aqui, Papai Noel mesmo, assim como estamos acostumados também não existe.
Bem, mas vamos por partes: krampus são a encarnação dos demónios do inverno, e é assim mesmo que eles se trajam: com roupas e máscaras de demónios, realmente muito feias e uma bolsa enorme nas costas; saem arrastando correntes e fazendo um barulho que, somado ao visual, os torna francamente assustadores. Eles tem a função de fazer o “balançø anual” entre as crianças: saber quem destas foi um bom menino - e que terá direito a saquinhos com bolos, pães com frutas cristalizadas, chocolates e outras guloseimas -, e quem não se portou bem. Os Krampus ameaçam sequestrar e levar em suas sacolas as crianças deste último grupo, alem de castigá-las com varas (tipo varas de marmelo, tá gente? Cruz, aqui a gente tem que explicar tudo nos miiinimos detalhes. Eu hein?!) para que elas aprendam a se comportar bem.
Já amanhã é o dia de Sankt Nikolaus, que leva uma certa semelhança como nosso Papai Noel, e não apenas nos trajes em tons de vermelho. É uma tradição muito viva ainda: É ele , também conhecido como Weinachtsman (o homem da noite de Natal), quem traz os presentes, no dia 06 de Dezembro. Na família do bonitão, por exemplo, era o pai dele quem interpretava o Weinachtsman: com o manto vermelho e máscara, ele trazia um caderno onde estava listado tudo o que as crianças – no caso, o bonitão e seu irmão - haviam feito de bom e ruim durante o ano, e só depois de ler os feitos de cada um, distribuía os presentes. É claro que as crianças nem imaginavam que era o pai delas que estava ali fantasiado, e ainda, segundo o bonitão, era desconcertante como o “Weinachtsman sabia tudo o que nós havíamos feito de bom e ruim.” Hmmpf, fiquei com inveja da infância dele. Ah, esquece. Tive Natais maravilhosos também...
Alem disso, existe aqui também a tradição das árvores de natal, enfeitadas com velas que só serão acesas na madrugada do dia 24. Há a entrega e troca de presentes, feita no dia 25 de Dezembro. As crianças acreditam que esses presentes são trazido pelo Christkind. Não sei traduzir isso: Christ é Cristo, Kind é criança, entendam aí como acharem melhor, certo? Na noite de Natal, como na tradição do nosso Papai Noel, o Christkind vem escondido. Os adultos arrumam um jeito de colocar os presentes sob a árvore sem que as crianças percebam, e depois dizem que “o Christkind passou por aqui agorinha, agorinha...”
E por último, ainda tem aqui em Janeiro, o dia dos 3 Reis Magos. Eu sou de uma cidade relativamente pequena, por isso ainda tive a chance de assistir à Folia de Reis, espero que vocês também, pois é bem legal. Pois bem, aqui essa comemoração também é diferente, apesar da origem ser a mesma – a adoração do menino Jesus pelos 3 Reis Magos: no dia 06 de Janeiro, três pessoas, quase sempre crianças, vêm á nossa porta, entoam canções e/ou contam histórias sobre o nascimento de Jesus, a adoração em Belém e a perseguição de Herodes. Ao final, recolhem algum dinheiro – não sei para que - , e escrevem com giz sobre nossa porta a expressão C+M+B, seguida do ano corrente. Até há cinco minutos atrás eu achava que essas eram as inicias de Caspar, Melchior e Balthasar, mas resolvi pesquisar o tema no Google e encontrei a expressao “Christus mansionem benedicat”, ("Christus segne das Haus") que quer dizer Cristo abençoa esta casa. Fiquei em dúvida. Só posso dizer que no ano passado, quando as 3 criancas tocaram a campainha daqui de casa, habitada por gente pão-dura, nós fingimos que estávamos dormindo. Sem comentários.
.x.x.x.x.x.x.s.x.x.x.x.x.xx.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.xx..xx.x.x.x.x..x.xx..x.x
Pra me penitenciar da pão-duragem, se eu sair hoje à noite, faço umas fotos dos Krampus e posto pra vocês, fica certo assim?

12.01.2004

Uma Idéia Legal

O O Alexandre, lá do LLL teve uma idéia bacana: Criar uma lista com os melhores livros de ficção de todos os tempos, lista feita pelos leitores do blog. Até aí, nada demais. O que eu achei bacana mesmo foi a possibilidade de criar(mos) um Clube de Leitura. Eu pergunto para os meus cinco seletos leitores: O que é que vocês acham? Tem um blog listado aí do lado A Cadeira - que teve uma proposta semelhante, mas infelizmente "fechou" faz tempo. Eu nunca quis deslinkar pois achava interessante manter a idéia desperta. E agora, parece que vamos ter chance de brincar a sério de novo. Vamos participar? Sugestões lá para o LLL, certo?

11.27.2004

Meu Encontro com um Nobel

Não, eu não vou falar da Jelineck, a austríaca que ganhou o Nobel de Literatura esse ano: nunca li nada dela, e pelo jeito não vou ler, pois segundo consta, ela escreve em dialeto. E se eu já não me garanto no alemão, que dirá nessa variante... Vou continuar mesmo falando sobre Meus encontros com Saramago. O título ficou assim pomposo porque eu queria impressionar, mas a história é bem simplesinha. E foi assim:

Dessa vez, Saramago estava no no Museu da Imagem e do Som, no Rio para o lançamento de “A Caverna”. E lá fui. Só que então ele já era o Nobel, e claro que então estava a imprensa em peso, auditório lotadíssimo, e eu sem chance nenhuma de repetir a dose com mais meia hora de papo como da última vez: os organizadores eram gente nada fina, e ao me ver com dois livros na mão, uma mullher com cara de muito brava, grunhiu: “Ele está cansado, só vai autografar um livro por pessoa...” Nossa, que meeeeda. Bom, terminou a apresentação, entrei na longa fila para autógrafos. Quando chegou minha vez, eu nervosa, nervosíssima frente à meu ídolo, comecei com uma frase estúpida e ensaiada assim: “Acho que o senhor não vai se lembrar de mim...” e ele, com cara de quem se lembrava mesmo: "Mas é claro que me lembro..." No meu diário á época, registrei assim:

Rio, quero dizer, Niterói, 08 de dezembro de 2000. Ontem, cheguei em casa feliz, feliz. Falei com Saramago. Acredita que ele lembrou de mim? Pois lembrou. Ele se levantou, tomou o meu braço, e perguntou: “Então, como vai a vida?” Eu, pateticamente respondo que tudo bem. Eu me odeio, mas eu me amo."
Saí de lá com mais autógrafos, e um belo sorriso. E isso foi tudo.

.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.

Mas no meu tesouro pessoal do Saramago, além dos autógrafos e do valiosíssimo endereço, tem também uma carta que recebi quando me casei, e que me deixou muito feliz – e orgulhosa também. A história é assim: Logo depois do meu casamento, fiz um daqueles cartões de participação com fotos da cerimônia, e enviei para ele junto com uma cartinha de que não me lembro do texto exato, mas era mais ou menos assim :


“Querido José Saramago,

Como além de ser sua fã, o considero também meu amigo, estou escrevendo essa carta para lhe dizer do meu casamento. Desejo a você toda a felicidade que eu mesma sinto agora.
Com carinho,
Felicia Luisa”

E aí, como resposta recebi a cartinha abaixo:


Cartinha do Saramago
Originally uploaded by FeliciaLuisa.

Só para deixar claro: tenho que confessar que o motivo pelo qual eu estava no Largo de São Francisco era por causa do Saramago mesmo, e não pelo ato do MST. É claro que ele não teria condições de saber disso, né?
E por enquanto, chega de tietagem....

11.24.2004

Estou como um Urso

Hibernando.

Por que é que a gente é assim?

Ou de Como Uma Coisa Puxa a Outra
Semana que passou, descobri o preço de um maço de cigarros aqui. O Marlboro custa € 4,60. Quase caí pra trás, quatro euros e sessenta centavos é muita grana, ainda mais se você tiver o hábito de ficar convertendo euros em reais.
Das recordações que tenho dos meus tempos de fumante, trago a lembrança do Free: Acho que custava uns R$ 1,80, ou R$2,00, mas posso estar enganada. Só sei que eu também achava caro. Ainda existe essa marca de cigarros? Quando estive no Rio, meus amigos ex-fumantes de Free agora fumavam Derby (um mata-rato danado de ruim).
Do Free, gostava de assistir ao comercial. Especialmente no sábado, à hora do Intercine, quando era veiculada sem cortes. Aos filmes do Intercine eu raramente assistia, mas esperava sempre para ouvir:"...mas alguma coisa a gente tem em comum". E tudo por causa da música: Não fazia idéia de que música era e de de quem a tocava; ela me fazia recordar alguma coisa desconhecida, me provocava uma saudade de algo que eu nunca soube identificar, uma angústia por algo apenas entrevisto, mas que nunca - até hoje - veio à tona, uma espécie de tristeza morna.
Assisti ao comercial por muito e muito tempo, sempre com uma carga forte de algo que eu não sei explicar. Algumas, raras músicas me provocam isso. E essa era uma delas.
E foi assim, que já morando no Rio, decidi descobrir que música era aquela. Liguei pra o Serviço de Atendimento ao Consumidor, o n° vinha impresso na embalagem do cigarro. Expliquei o que queria, e fui bem atendida: a moça me explicou que havia uma agência de publicidade responsável pelo comercial, e muito prontamente, me deu o n° de telefone. Liguei pra lá, expliquei a história da música e de novo, fui muito bem atendida. Me mandaram para um endereço em Botafogo, perto (no?) prédio da FGV. Cheguei lá, e que coisa, fui muito bem atendida por um rapaz. Contei a história da música e do comercial e ele me olhava meio espantado. Por fim disse: "Nossa como você é persistente. Você chegou até aqui por causa da música?" Eu disse que sim, era uma música que mexia comigo, não sabia explicar o porquê. Ele me disse:" É o Rick Wakeman quem toca. Traz uma fita que eu gravo pra você." Eu disse tá, muito obrigada. E nunca mais voltei.

11.22.2004

Sabe o que é?

É que ando tãoooooooooo cansada. Por isso:

Telefonemas que não fiz,
Notícias que não mandei,
Comentários que não respondi,
Blogs que não visitei,
mails que não retornei,
palavras que calei:
Opções:
a) Não se afobe não, que nada é prá já;
b) Tudo tem seu tempo debaixo do sol, já dizia o Eclesiastes;
c) Desculpem, amiguinhos:
d) A Dona do Blog é mal educada;
e) Todas as opções anteriores.
.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.xx..x.x

Essa semana tive um sonho-pesadelo. Assim: Sonhei que Jesus tinha um blog (confesso que tenho visitado muito o Jesus, me Chicoteia!, não sei se foi influência), então Jesus tinha um blog e contava assim:" Me lembro quando vi a madeira com a depressão onde se encaixaria o cravo. Fui deitado ali (?). Quando pregaram os cravos em minha mão, a dor foi enorme, mas ainda suportável; porém quando pregaram os cravos nos meus pés, achei que não ia aguentar de tanta dor."
Não me lembro bem das palavras corretas, mas fiquei com uma pena muito grande de Jesus, foi impressionantemente horrível a descrição da dor da crucificaçao.
.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x
Eu vou contar o resto da história do Saramago. Mas só depois.

11.16.2004

O Saramago e eu. Eu e o Saramago.

E hoje, outro aniversário: a JOSÉ SARAMAGO, meu carinho, meus parabéns e meus agradecimentos especialmente pelos personagens que você incluiu na minha vida. Bem, dito isso, outra coisa: Vocês já devem ter se deparado com pessoas que vivem de“torcer o assunto“, só para incluir na conversa um determinado tema preferido. Então, é isso: eu comecei falando do aniversário dele, mas minha intenção é verdadeiramente incluir no post como foram meus encontros com José Saramago, pois é claro que tenho que tornar – mais – pública essa história. E sem mais delongas, a história começa aqui:



Quem quiser saber a versão do Saramago sobre nosso encontro, deve ler o livro „Cadernos de Lanzarote“, na data de 16 de abril de 1997 (Cadernos de Lanzarote II, na 1. edição da Cia das Letras, corresponde à pagina n°353 do Diário V). Lá, de forma sucinta e muito melhor apresentada do que eu jamais poderia, está representado nosso encontro. Por favor, apenas corrijam o fim do texto: onde está escrito Letícia Luisa, leia-se Felicia Luisa, pois a protagonista é mesmo essa que vos escreve.

Já a minha versão é bem mais longa: Saramago estava no Rio acompanhando o lançamento do livro de Sebastião Salgado. Naquele época, ele não era o ilustre Nobel, e eu já era sua fã – eu tenho um orgulho danado de dizer que conheço o Saramago muito antes dele virar moda, perdoem mais uma vez minha personalidade metida a besta. Me lembro que passei quase toda a noite em claro, escrevendo cartas para entregar à ele, que estaria no Centro Cultural Unibacno, em Botafogo, juntamente com o Sebastião Salgado e o Chico Buarque. Eu tinha acabado de ler os „Cadernos de Lanzarote I“, onde Saramago afirma que nunca se recusa a falar com seus fãs nem discutir sobre seus livros, e, sendo assim, eu sabia iríamos nos falar. Mas Saramago foi logo embora, alegando cansaço e sem falar com ninguem. Noite perdida, não desisiti. Havia um zumzum de que ele estaria no IFCS no dia seguinte. Nessa época, apesar de morar em Niteroi, eu não fazia idéia de onde era esse IFCS (Instituto de Filosofia e Ciencias Socias, lugar onde por coincidência, eu iria estudar anos mais tarde), mas acabei encontrando, e lá fui eu, com „Memorial do Convento“ e os „Cadernos de Lanzarote I“ – na bolsa, para receber autógrafos. O texto que segue em itálico, eu escrevi em meu diário - pois naquele tempo, a gente só tinha diário mesmo, nem pensar em blogs - à época do acontecido. Como vocês já perceberam, cometo muuuitos erros de português, por isso não culpem o Saramago, estou transcrevendo exatamente o que eu mesma escrevi. Se não quiser ler minha versão, é só pular essa parte. Comecei assim, em letras garrafais:

4. Feira, 16 de abril de 1997. Hoje falei com José Saramago.
IFCS. Eis que ele surge. Eu esperava apenas ao Sebastião Salgado. Consegui entregar-lhe as duas cartas, a princípio. Depois de finda a palestra, conversamos. Não foi bem assim, eu descrevo mal. Aproximei-me com o Memorial nas mãos
(refiro-me aqui ao meu livro preferido, o "Memorial do Convento“) e disse: "Gostaria de lhe dar de presente, se já não fosse seu." Ele sorriu. Eu: "Tambem lhe entreguei duas cartas.“ (refiro-me às duas cartas que havia entregue antes do começo do comício) Ele:“ Ah, foi você? Como é seu nome?“ Eu: "Felicia Luisa." Ele autografou então meu livro e seguiu. Fui atrás. Entreguei-lhe então um papel onde estava escrito: "Não é preciso ser árvore para deixar raízes", em referência a ele ter dito que, se pudesse nasceria árvore para ter raízes na terra.

Já dentro do IFCS, apresentei-lhe os "Cadernos" e disse: „Queria dizer ainda que também sou meio cética as vezes, mas que não devemos desistir nunca.“ Ele:“ Minha filha, eu sou o mais cético dos seres humanos.“ Eu: "Eu sei, mas não podemos desistir nunca." Segui-o até a porta de uma sala. Qunado José retornou à porta eu, disse-lhe: "O senhor se importa se eu lhe escrever para Lanzarote?" Ele: "Não, claro que não, escreva sempre (super eloquente). Eu: "Mas como eu escrevo??" (referindo-me ao endereço). Ele (irônico): " Ora, como escrever? Escrevendo, ora..."
(Nesse ponto, tem razão quem disse que ele é cruel: ele estava pronto para debochar de mim, ao confundir minha ignorancia de seu endereço com ignorância sobre como me dirigir a um escritor. Mas eu relevei, porque tenho bom coração...) Eu (interrompendo-o): "Mas para onde? Já lhe escrevi através da Editorial Caminho..." Ele: "Não te preocupes, isso é mesmo assim. Até chegar á Lisboa, demora cerca de 15 dias, e depois até Lanzarote...Deve estar lá sim. Já há cerca de (?) dias estou aqui, havia já uma pilha de cartas." "É, eu já sei que o senhor recebe sempre uma pilha de cartas. (Foi algo assim) ) (eu sabia do dia-a-dia do Saramago porque havia acabado de ler seu diário, nao se esqueçam) Continuei: Aliás, quando eu disse que lhe escrevi para Lisboa, José respondeu: "Não, espere, vou dar-lhe o endereço." E anotou num papelzinho o que se segue. Essa parte eu tenho que pular, já que não tenho autorização para dar o endereço dele. Mas se você gosta do Saramago, acredite em mim: escreva para Lanzarote – Canárias. Sua carta vai chegar lá...continuando com meu diário, escrevi assim: (Gente, de próprio punho, eu tenho o endereço do gênio). Depois é que se deu o diálogo referente à pilha de cartas. Despedi-me então dizendo: "É um prazer e uma honra ser contemporânea de um gênio", e beijei suas mãos. Ele então, tomou as minhas, beijou-as, beijou meu rosto e com tapinhas carinhosos na nuca, disse-me sorrindo.“Tonta, tonta, tonta“. Interrompo só para dizer que foi a 1.e única que vez que alguem me chamou de tonta e eu fiquei feliz.... Segue: Fui-me: dois autógrafos, 3 beijos, um abraço, o endereço de próprio punho, o quem mais eu poderia querer? No meio do Largo de São Francisco, resolvi voltar. Afinal, ir pra quê? Voltei e fiquei parada olhando meu ídolo. Ele me olhava também, olhava as fotos, autografava. Após alguns minutos, resolvi me reaproximar: "Tem mais uma coisa." Ele toca carinhosamente no meu braço:"Diga." "Eu também gostaria que o Baltasar tivesse vivido, e ficasse com a Blimunda." "Mas a idéia já nasceu asssim, e no fim, ela acaba recolhendo a vontade dele.“ É. Eles viveram juntos o que era pra viver." Ele, falando com uma jornalista: "É que meu editor alemão quis por que quis que o Baltasar não tivesse morrido, e se recusa a admitir essa hipótese." Eu, já penalizada:“ Eu só tive essa idéia após lê-lo nos Cadernos". ...Eu: "Na carta que lhe enviei para a Editorial, eu falei..."
Ele, me interrompendo: "Mas quando foi esta carta?“ „Mais ou menos há uns dois meses." "Eu vou receber." "Tomara. Nesta carta eu digo que sempre me lembro do senhor e da Blimunda: quando estou triste, e minha vontade esmorece, eu penso: e se a Blimunda passar por aqui e me ver nesse estado...aí eu fico logo feliz!...“ Ele me abraçou de novo e disse:“ Que menina bonita que tu és." Eu não morri, a prova é que estou a escrever aqui. Respondi: "O senhor é que é o máximo, eu o adoro. Ele me abraçou de novo. Eu:“Eu não sei mais o que dizer, é uma honra, é uma honra.“...Mais jornalistas, mais autógrafos. Alguém o pegou pelo braço. “Vamos." Foram-se. Não o vi mais de tão perto, apenas separados por uma porta de vidro. Procurei alguém que acendesse meu cigarro, estava em êxtase. Ainda fiquei por perto da porta. Eles sairam (a imprensa, José, e Sebastião Salgado), não vi para onde. Mas isso tudo aconteceu de verdade.


................................................................

Eu escrevi encontros no plural não foi? Pois é, anos depois me encontrei -de novo - pessoalmente com Saramago. Dessa vez,um encontro muito rápido, não mais que 4 a 5 minutos, só o tempo de ganhar mais uns autógrafos e trocarmos 2 ou 3 frases. Mas essa história eu conto depois. O que eu queria registrar é um lado do Saramago que as pessoas talvez desconheçam: ele sabe ser amável, atencioso, carinhoso e brincalhão, apesar de toda a mascára de empáfia que aparenta. Mascára que acredito que ele porte mais por auto-protecão. Já li histórias sobre o mau-humor e cinismo do Saramago, escrita por gente muito respeitável. Não ponho em dúvida essas palavras, só acho que Saramago deve ser um ser humano como todos nós, sujeito à erros, equívocos, crises de mau humor e coisas afins. Que ele é uma figura pública não exclui o fato de não ser perfeito. Acho também que ele não precisa de advogados - tenho a impressão de que ele pode se defender muito bem sozinho - e eu jamais teria essa pretensão. Só queria deixar aqui uma impressão - minha impressão - positiva sobre ele. Amanhã, tem mais.

11.15.2004

Lista de Presentes

1 - CD: Bloco do Eu Sozinho - Los Hermanos
2 - CD: Bonança - Los Hermanos
3 - Livro: Rosário de Minas - Memórias e Sugestões, Octavio Mello Alvarenga
4 - Livro: Como e Por que Ler os Clássico, de Ana Maria Machado
5 - Grande Sertao Veredas (pode ser de sebo, viu?)

.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
Justificativas, esclarecimentos, bobagens:

* A lista não está em ordem de prioridade.
* Se vc não quiser me dar os livros, me empresta pelo menos, né? Juro que devolvo.
* Sobre o Los Hermanos: Juro que além de Ana Julia, só ouvi as cançoes que a maria Rita gravou, ninguem merece continuar em tamanha falta...
Obrigada, amigo oculto.
REMENDO: São 20:40h. lá fora a temperatura é de 4°C. Chego em casa e vou conferir se o nome do amigo- oculto já chegou pelo email. E entao....acabo de descobrir que não faço parte do grupo lá do Sindorme de Estocolmo no qual pensei que estivesse inscrita. O sorteio foi hoje. Nossa, vou chorar. Mas a lista fica aí, de qualquer jeito, tá amiguinhos??!!)

11.14.2004

PEQUENOS CHOQUES (...anotações de uma Visitante Distraída)

Quando fui à Veneza, vi pela primeira vez uma mulher com um diamante encravado (ou a gente escreve incrustado?) nos dentes. Fiquei estupefata e não parei mais de encará-la enquanto ela falava, sorria, ou simplesmente não fazia nada: Eu fiquei hipnotizada - sou caipira, uai, nunca tinha visto uma coisa daquelas. Fiquei pasma. Acho que a mulher chegou a desconfiar que eu estava a fim dela, tamanha a minha insistência em olhá-la. Mas eu não estava não, era assombro mesmo.

Recém chegada aqui, me lembro ainda do meu estranhamento ao ver outra mulher de salto alto, meias finas, tailleur e um vistoso colar de pérolas - indo para o trabalho, suponho - de bicicleta. Nossa, andar de bicicleta vestida desse jeito? Eu ainda não sabia que isso era comum. Também fiquei olhando, olhando, até a mulher sumir de vista. Escrevendo isso aqui, sobre ficar encarando a mulherada, começo a desconfiar que sou gay...Mas acho que não, foi o comentário da Antônia no post anterior que me fez lembrar desses e outros acontecimentos, que na verdade foram parte dos pequenos choques que sofri por conta da diferença cultural. Sobre bicicletas, a primeira vez que uma parou no sinal vermelho, ao lado do carro onde eu ia, perguntei ingenuamente:
-„ Ué, porque o moço da bicicleta também parou aqui na faixa?“.
-A resposta óbvia foi: „O sinal está fechado.“
- „O QUÊÊÊÊ?????“ e tome mais cara de assombro ao descobrir que os ciclistas também respeitam as leis de trânsito aqui, e podem ser multados caso a descumpram...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O título do post eu plagiei descaradamente do João Ubaldo Ribeiro, no „Um Brasileiro em Berlim“. Aliás, eu recomendo enfaticamente a quem quiser saber mais sobre a Áustria que leia esse livro. Calma, gente, eu sei que Berlim é na Alemanha. Mas várias situações que ele descreve lá são parecidíssimas com algumas que vivo aqui: a minha constante tendência a sofrer atropelamento por bicicletas (cometo sempre invasões involuntárias na faixa dos ciclistas); o olhar e a reação dos homens quando passa uma gostosona na rua (nenhuma reação visível); a famosa bandejinha para receber dinheiro que existe em muitos estabelecimentos; a língua alemã, que quase ninguém por aqui usa, - aliás, constato que quem melhor pode falar o alemão aqui somos nós, estrangeiros: o povo aqui só fala em dialeto; a tradicional comida austríaca: Kebab, pizza e afins.
Um único conselho, caro, mas que vai de graça, especialmente para quem mora na Áustria ou Alemanha e pretende ler o livro: leia-o na santa paz do seu lar, de preferência num recinto isolado, e nunca, mas nunca mesmo pense em lê-lo em locais públicos: você vai se escancarar de tanto dar gargalhadas, causando um escândalo de risadas não muito recomendável aqui por essas plagas...
ADENDO:Cruz Credo, que mancada: O diamante era cravejado, cravejado, cravejado...Ou será mesmo incrustado?

11.12.2004

Minhas Plantas: Meu Presente para Um Grande Amigo

Recebi um convite especialíssimo: ir a São Paulo pra comemorar o aniversário do meu amigo Luís, o dono do finado fusquinha bege e uma pessoa muito querida. Pois é, ir a São Paulo, não vou não, mas o presente eu entrego publicamente: Tenho uma planta linda aqui em casa e que andava sem nome. A partir de hoje, ela se chamará Luís. Luís, querido, então é pra você que eu republico esse post como presente de aniversário, mas por favor, não vá me fazer como o volúvel do Astor, hein? Pra você desejo um baita aniversário e uma vida longa com tudo, tudo, tudo o que há de bom.

Minhas plantas
1:54 PM Sempre tive o hábito de dar nomes às minhas plantas. Me lembro ainda com saudades da Maria Bethânia, uma samambaia linda que tive. Tive também outra samambaia, com o nome de Thomás em homenagem a um amigo e o cabelo que ele usava na época. (Aliás, encontrei o Thomas numa festa em Santa Teresa, e ele está meio calvo agora. Mas continua bonito.) E além de Bethânia e Thomás, tive a Nana, que eu não sei que espécie de planta era. E muitos outros. Minhas plantas ficaram com minha mae quando me mudei para o Rio. Que bom para elas - ambas, porque minha mae tambem adora plantas.

Me lembro especialmente de um cactus, chamado Astor Piazzolla. Sempre adorei cactus, - já comecei minha coleçãozinha aqui, mas enquanto estive no Brasil, três deles morreram, uma pena - e tinha um carinho especial pelo Astor. Uma vez, quando eu ainda morava em Volta Redonda, fui acampar em Visconde de Mauá. Notei que meu cactus estava assim meio tristinho, na verdade, murchando, talvez por excesso de água. Quando voltei de Mauá, minha mãe comentou comigo sobre a morte do Astor, o Piazzolla humano. Fiquei desolada, porque adorava os tangos dele. Na mesma semana, Astor, meu cactus, tambem morreu.
Post de24/09/2004




11.10.2004

A Cidade dos Livros Sonhadores. E Outras Compras



Estou ainda com "Die Stadt der Träumende Bücher". Triste porque já vou terminar a leitura, ansiosa para conhecer o final. Comprei o livro no dia em que fui atacada pela febre. Eu sei que é muito feio, mas aconteceu: tive a febre do consumismo (meu Deus, meu Deus, endireita essa tua filha). Na verdade, eu só precisava comprar o livro de Latim, mais nada. Mas havia um outro livro no meio do caminho, no meio do caminho havia um outro livro.

Eu já havia visto alguns dias antes, quando passeava por outras livrarias. Foi só um bater de vistas, rápido, mas desde o primeiro dia, eu já estava apaixonada. Die Stadt der Träumenden Bücher tem uma das capas mais charmosas que eu á vi. A lombada amarela. E o nome que ficou: A Cidade dos Livros Sonhadores. Não deu nem para folheá-lo, já que o livro estava lacrado – no dia em que eu for importante, vou lançar uma lei proibindo que que se proíba o leitor de folhear livros nas livrarias, que absurdo. Eu tampouco pude entender claramente a advertência do personagem – estava em alemão, e eu correndo. Mais ou menos assim:”Eu falo sobre um lugar onde a leitura pode levar à loucura. Onde os livros machucam, envenenam, podem até matar. Só quem é verdadeiramente preparado para a leitura desse livro, para o risco de comprá-lo e tomar parte nessa estória, esse deve me seguir. A todos os outros eu agradeço pela falta de coragem, mas também pela saudável decisão de parar por aqui...”

Eu que sou um espírito fantasioso, já fiquei com medo, mas a capa; ah essa capa desmentia tudo. Só sei que na terceira livraria que entrei - ainda procurando pelo livro de Latim, que estava esgotado – obedeci ao meu impulso e o comprei. Bem, estávamos falando de febre, e não, isso ainda não era a febre, era só assim, digamos em linguagem romântica, coisa do destino: porque esse livro TINHA de ser meu, e isso eu já sabia.


Die Nacht vor der Scheidung
Originally uploaded by Felicia Luisa.


A febre começou no momento em que, na mesma livraria e sem pensar duas vezes, eu comprei “Die Nacht vor der Scheidung” – A Noite da Separação , de Sándor Márai. A capa me remeteu a alguma coisa brega – em meu estado normal, eu jamais compraria um livro com uma capa dessas, parecia capa de revista Júlia, Bianca, Sabrina, acho que vocês sabem do que estou falando. Bem, não tinha informação a respeito do livro, mas já ouvi falar do autor. (Hmmm, na verdade eu sei que estava na lista de best-sellers daqui, e é só pensar no Paulo Coelho para deduzir que nem sempre isso é um bom indício.) Mas eu comprei. Sem pensar duas vezes e sem estar apaixonada. Isso foi o começo da febre. Deixei € 44 na livraria.

A febre deve ter piorado imediatamente, porque eu fui correndo pro caixa eletrônico e saquei mais um dinheirinho. Daí corri pra H&M – uma loja assim meio fashion que também atende aos pobres. Comprei 4 blusas de malha. Duas eram cor de rosa, sinal de que eu estava realmente doente: NUNCA fui fã de cor de rosa. A não ser da pantera. E lacinhos para cabelo de nenen. Mas eu comprei. Corri para C&A, comprei um par de sapatos pretos. “Mulher feia, você vai comprar outro par de sapatos?” Isso foi o que pensei, mas nem me dei ouvidos. E comprei também um par de meias muito coloridas.
Agora, espero sinceramente que a febre tenha passado. Mas não sei, o que eu queria mesmo era um par de ténis cor de rosa. Pra combinar com as blusas.

E a propósito, consegui encontrar o livro de Latim alguns dias depois. Sem levar mais nada.

11.09.2004

Volta Redonda, 09 de novembro de 1988

O que me surpreende é a aparente (?) falta de memória das pessoas. William, Walmir, Barroso: Presente. Só sei do que eu sei, e digo: Eu vi, eu sei, eu estava lá.

11.08.2004

Eu, hein?!

Nao sei o que foi que eu andei escrevendo por aqui, mas uma colega mandou um mail e disse que eu agora estou muito chique. Hmm, nao sei se conto que fui procurar emprego no McDonalds ou se continuo mantendo a pose...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

E uma coisa nao tem nada a ver com a outra, mas acho que essa semana vai nevar. Veremos.

11.07.2004

Viagens

Alguém sabe de algum livro do Walter Moers que esteja em português, ou pelo menos espanhol? Já dei uma olhada no Google e não encontrei muita coisa. Estou amando “Die Stadt der Träumenden Bücher”, mas sinto que ainda perco muito da piada, por causa dos tropeços na língua. Queria ler em português traduzido por alguém experiente e fazer minhas comparações. Mas que fique claro que eu não troco essa leitura no original por nada; é o primeiro livro “de gente grande” que leio em alemão. Ó céus, acho que alcancei minha independência, tô tão feliz com essa conquista, difícil explicar...

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Hoje fui assistir “Diários de Motocicleta”, que por aqui foi intitulado “ Die Reise des jungen Che” - ou “A viagem do Jovem Che”-. Ah, como eu achei lindo. Chorei que nem uma bobona. Eu sou uma bobona mesmo.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Pensei nas viagens que – ainda – nunca fiz, e que já planejo há tantos anos. Uma delas, a de sonho mais antigo, é justamente ao Machu Picchu. A outra é ao Tibet. Será que vou, será que não vou?

11.05.2004

Mais desculpas

Dessa vez, porque acho que magoei alguem (ó gente, não se esqueçam que o blog é do meu umbigo, tá??!)A propósito, o selo da campanha "Pense Duas Vezes", eu peguei no belíssimo blog da Sue.

E=mc2. E meu pai

E=mc2 é uma das equações mais famosas do mundo, e provavelmente uma das mais incompreendidas. A atriz Cameron Diaz, quando perguntada sobre a existência de algo que ela gostaria de saber, respondeu que gostaria de saber o que E=mc2 realmente significa. Pelo menos, é isso o que diz o autor David Bodanis, na introdução do livro que leva o nome da equação.

Eu já o havia lido há alguns anos atrás. Acontece que desde a morte do meu pai, este livro não me saía da cabeça, e por isso, resolvi relê-lo. Acho que por que foi inevitável deixar de associar ideias ligadas a morte e curiosidade com o que se passa depois, com temas como matéria, corpo, massa, energia, etc. Um parênteses: Li lá no Polzonoff: “A morte... por um tempo que pode durar meses ou anos, torna viva a pessoa morta numa explosão de lembranças muitas vezes involuntária. Então, se eu pudesse dar um conselho aos amigos que são pais e mães, diria para tentarem forjar só boas lembranças na cabeça de seus filhos. Sejam bons pais, viu? E a todos nós, filhos, que nos esforçássemos para construir boas lembranças pra todo mundo. Ah, mas essa velha senhora está divagando de novo. Fim do parentêses, vamos voltar pro livro:

Bodanis escreve de modo muito claro e acessível, voltado para um público leigo, e para gente que como eu, atinge o cúmulo da ignorância em termos de física; por isso o livro acaba sendo muito fácil de ser digerido. Além do mais, o autor faz um certo tipo engraçadinho de que eu gosto (não sei se a memoria está falhando, mas acho que já ouvi o Bodanis ser muito esculhambado pela inteligentzsia – é assim que se escreve? – do IFCS, o que não tem nada a ver como caso que estou escrevendo, exceto por uma pequena piada particular).

O livro começa com uma pequena “biografia” da própria equação, e em resumo, muuuuito por alto, é assim:

A ciência ficou um bom tempo estacionada nas descobertas que surgiram graças a dois homens: o primeiro foi o famoso Faraday. A Lei da Conservação da Energia surgiu graças aos estudos dele. O outro mocinho foi Lavoisier: Foi a partir das experiências de Lavoisier que se descobriu que a quantidade de massa do universo permanece sempre a mesma, independente das transformações que esta sofra.

Então, como eu ia dizendo, a ciência ficou um tempão parada aí nesse pé: energia e massa são sempre conservadas, e isso era algo assim como um dogma - inquestionável. Até que Einstein apareceu e descobre que não: energia e massa não são conservadas. Mas isso não quer dizer que exista o caos, pois ...a quantidade de massa que se ganha será sempre contrabalançada por uma quantidade equivalente de energia que se perde.” Einstein teve a genialidade de decobrir que o fator C (do latim Celeritas=ligeireza) que é a velocidade da luz, elevado ao quadrado é exatamente o fator de conversão necessário entre massa e energia, a ponte que mostra que energia e massa estão conectados.

Alôôôô, ainda tem alguém aí? É sério mesmo, gente, o negócio é legal e fácil de ser entendido, acho que eu não sou boa para explicar, mas o livro é ótimo. O exemplo do Bodanis:

Imagine um ônibus espacial viajando quase a velocidade da luz. Em circunstâncias normais, bastaria que o motorista bombeasse mais combustível – emergia – para que a velocidade aumentasse. Mas, prestes a atingir a velocidade da luz, as coisas são diferentes: o ônibus simplesmente não pode andar mais rápido que a luz. Apesar disso, digamos que o motorista insista em continuar bombeando combustível: o resultado é que a energia é forçada a se transformar em massa. Visto de fora, a massa sólida do ônibus espacial começa a crescer, e se você continuar a bombear energia, ele continuará a inchar. O que está acontecendo é que a energia que é bombeada para dentro dos protons ou para dentro do ônibus espacial imaginário se transforma em massa extra. Exatamente como afirma a equação: que “E” pode se tornar “m” e que “m” pode se tornar “E”.
É isso o que explica o “c” da equação. No exemplo, à medida que você se aproxima da velocidade da luz, é que as ligações entre Energia e massa se tornam especialmente claras. O número “c” é meramente um fator de conversão que informa como opera essa ligação.


O livro não pára por aí. Bodanis segue falando das consequências da descoberta de E=mc2, a criação da bomba atómica, o que foi, o que poderia ter sido, e provavelmente o que será o futuro do Universo. Eu já disse que ele faz o tipo engraçadinho e tem até uma parte onde esculhamba com o Poincaré – antes que alguém diga alguma coisa, eu assumo que não li mais do que as primeiras paginas do “não sei que lá das ciências” (esqueci o nome, desculpem), que o Professor Japiassu recomendou. Mais alem desse lado engraçadinho, o livro impressiona. Pelo menos eu, leiga total, fiquei impressionada. E recomendo.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Provavelmente, esse foi o último livro em português do ano, já que PRECISO me dedicar ao deutsch. E eu nem falei o que aconteceu com o “Terra Nostra”, né? Pois é, terminei já faz um tempinho, 8mas demorei um tempão pra acabar a leitura): nunca um livro me foi tão pesaroso. Não sei se foi por culpa do Carlos Fuentes, mas da minha culpa eu sei: Acho que é um livro para se ler de um fôlego só – até para que não se perca o fio da meada. Esse não foi o meu caso: acontece que o início da minha leitura coincidiu também com o início do curso de latim, do curso de alemão e do curso de inglês. Não pensem que sou estudiosa e tive que me concentrar nos cursos. Pior: fiquei com uma sensação de culpa danada, porque na verdade não me concentei em nada. Pegava no livro e lá vinha o pensamento:”Olha a redação em deutsch.”; começava a redação em deutsch e lá vinha o pensamento: ”Mas você deixou o livro de lado? Que o pecado.” Então, acabei lendo pela obrigação de ler, e não mais pelo prazer, coisa que detesto. Pois é, eu funciono assim, fazer o quê? Terapia, tá bom, brigadim.
Enfim: no ano que vem, decido se vou reler o Fuentes, ou não. E aí comento. Enquanto isso, estou tropeçando - muito - no alemão, mas gostando de ler “Die Stadt der Träumenden Bücher”.

11.03.2004

DEUS SALVE A AMERICA!

Me salva tambem, meu Deus!

(Ah, salvai aos amiguinhos do blog também. Ai, meu Deus, salva o mundo todo logo de uma vez, que o negócio tá feio de doer.)
Amém.

11.01.2004

Magreleza e Biscoito de Cebolas

Esse post começou por que minha amiga Erica me mandou um mail dias atrás, com fotos do novo modelito de cabelo. Aí me lembrei dum causo que aconteceu com a gente no ano passado.

A Erica não é muito alta não, acho que não chega a 1,65m, mas como é “fininha”, aparenta ser bem maior: acho que ela não pesa mais que uns 40, 42 kg, mas posso estar enganada; talvez ela pese menos. E desculpem o trocadilho sem graça, ela é gente fina mesmo, além de parecer um bibelô. Já eu sou o tipo grandalhona: tenho 1,79m e peso 57 kg. Mas em Junho de 2003, quando aconteceu a história abaixo, eu andava aí pelos 53, 54kg, quer dizer, um pau de virar tripa.
Pois bem, vai daí que uma vez, depois das aulas no IFCS, nós duas resolvemos ir almoçar no Douglas, um restaurante natureba que fica ali por perto, na Rua Luís de Camões. Lá se vão as duas magricelas, quando já na porta do restaurante, um gaiato solta essa: “É, continua comendo aí, que cês vão continuar sempre magrinha”. Rolei de rir.
.......................................................................................


Ué, já acabou a história. Não achou graça não, é? Ok, eu me redimo, e deixo um presentinho. Fica assim:

No mail, a Erica também me disse que está vendendo tortas (“a noite, pros lariquentos”) pra descolar um troco. E me pergunta se eu não tenho receita de torta gostosa que eu ja tenha feito. Respondi que torta eu não sei fazer, não, mas tenho receita de biscoito de cebola. Fácil de fazer demais da conta e uma delicia. E pra vocês que tiveram a paciência de ler esse post descarado até aqui, dou de graça a maravilhosa receitinha dos biscoitos como recompensa.

Biscoito de cebola

Ingredientes
200 g.de margarina
6 xícaras (de chá) de farinha de trigo
3 gemas
1/2 xícara (de chá) de óleo
2 colheres (de sopa) de água gelada
3 colheres (de chá) de fermento em pó
1 envelope de sopa de cebola
2 cebolas médias raladas

Preparo
Amasse bem todos os ingredientes até dar liga. Faça bolinhas e coloque-as em uma fôrma ou tabuleiro untado. Asse em forno moderado durante dez a quinze minutos.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O pior mesmo é que eu tive a coragem de transformar essa história em redação pro meu curso de alemão e a professora adorou! Ficou assim a versão em deutsch:

Meine Freundin Érica hat mir ein mail geschrieben und in dem mail sind auch Bilder: sie hat jetzt eine neue Friseur und sie beibt noch schönes.
Ich erinnere mich an eine lustige – mindestens für mich – Geschischte, die mit uns passiert ist: Erica ist nicht so groß, vielleicht 1,65 m. Aber sie sieht größer aus, weil sie ca. 43 kg- oder weniger – wiegt: Sie ist wie eine feine Puppe. Und ich, ich verzichte auf der Vorstellung, aber ich sage es trotzdem: In dieser Zeit war ich auch sehr schlank.
Eines Tages nach dem Unterricht bei der Univesität in Rio de Janeiro haben wir uns entschieden in einem vegetarianischen Restaurant zu essen. Vor der Tür sagt uns ein ganz spontan Mann: “Ja, je mehr ihr hier isst, desto dünner wurdet ihr sein.” Er hat über uns gelacht. Und ich auch.




10.30.2004

Nao

Não, eu não sou a namorada do Homem-Aranha.

10.29.2004

Outro assunto

Ai, que me deu uma preguiça, não vou contar mais nada sobre a ida a Itália, não. Ah, gente, pensa bem, tudo o que eu disser vai ser clichê, vocês sabem como a Itália é charmosa e tudo o mais. Além do mais, blog sobre o assunto é aqui
e aqui. E eu tô pensando em outra coisa agora; realmente, não vai dar. Vou deixar as fotos aí, e o resto vocês imaginam , ok?!

Tá bom, então vou contar só uma coisa, que vocês tem que saber se um dia forem àquele país, especialmente se você faz o tipo mijão – não acredito que estou escrevendo isso aqui, a que ponto eu cheguei -: Sabiam que, em muitas cidades da Itália, o banheiro, ou mais propriamente, o vaso sanitário deles é só um buraco no chão? (mas tem banheiro „convencional“ também, o negócio é que na ora da necessidade nem gente a sempre acha um). Quando estive em Veneza, fiquei assim meio traumatizada, sei lá, esse negócio de ficar agachando em cima de buraco pra fazer xixi, aí, fala sério... Dessa vez, fui preparada: Se eu entrasse num WC, e fosse banheiro tipo „os nossos“, ok, fazia meu xixi tranquila; se não, eu segurava as pontas até chegar no hotel. Só no último dia, é que, estando literalmente muito apertada, usei o tal buraco (estou me referindo ao tal buraco no chão, ô engraçadinho). Bem, cada um sabe onde a necessidade aperta, não é mesmo? Pra terminar, prometo que nunca mais prometo nada por aqui. E tendo dito, aquele abraço.

Vicenza
Originally uploaded by Felicia Luisa.



Vicenza
Originally uploaded by Felicia Luisa.



Bassano: Porta delle Grazie
Originally uploaded by Felicia Luisa.



Bassano
Originally uploaded by Felicia Luisa.



Bassano: Ponte Vecchia
Originally uploaded by Felicia Luisa.



Bassano: eu pelas vielas
Originally uploaded by Felicia Luisa.



10.27.2004

Latim, Falação e Notícias Sobre uma Curta Visita à Itália

Hoje teve aula de latim. Cheguei tarde e saí cedo. Como é muito desagradável chegar atrasada e incomodar a professora e os colegas, eu, que sou uma libriana muito ciosa do modo elegante do ser e por isso mesmo muito metida a besta, fiquei sentada na penúltima fileira. Bem na frente de um povim que só fez fofocar a aula inteira. E daí? Uai, daí que eu não consigo me concentrar nem em português com cinco pessoas falando ao mesmo tempo, quem dirá em alemão?! Si ferrei. Então, foi com essa já declarada e notável elegância que me ergui do meu assento e abandonei a aula pelo meio. Vim pra casa, contar pra vocês como foi a visita à Itália.


Sobre uma Curta Visita à Itália


É incrível como a paisagem muda em tão pouco tempo de viagem, entre um lado e outro dos Alpes. Do lado austríaco, o outono está um escândalo de multicor: As árvores tem folhas que vão do mais opaco amarelo até o vermelho vibrante, mesclado com diferentes tons de verde, laranja e dourado. Cor de incêndio. O tom seguinte será o marrom: com a proximidade do frio intenso, as árvores vão ficando cada vez mais secas e nuas. Depois se cobrem de neve, e esse espetáculo de cores só volta com a primavera. Só para continuar um pouco pernóstica, eu diria que são os últimos estertores do Outono antes do frio abissal, mas vou poupar vocês, tá? Por enquanto, digamos que até Outubro, as cores do”nosso” Outono estão mais vibrantes que as do lado italiano: por lá, a natureza ainda trabalha nas variações de verde.

Chegamos em Vicenza por volta de uma hora da tarde, e nosso destino era o centro histórico, a parte antiga da cidade. O almoço – massa – foi bom, mas o que me chamou a atenção enquanto comíamos foram os mendigos que vieram até nossa mesa. Na Áustria, temos mendigos também. A diferença é que –pelo menos em Graz - eles sentam defronte às igrejas ou nas ruas de grande movimento e se limitam a estender a mão, pedindo ajuda aos passantes. Na Itália, os mendigos agem como os colegas brasileiros: vão até as mesas e pedem ajuda às pessoas. Meu pensamento foi o título de uma reportagem que li, sobre a União Europeia. Pensei: “Para onde vai a Europa?” Parece que a miséria vem caminhando em passos cada vez mais largos.

De barriga cheia, toca a procurar hotel. No caminho até o centro de informações turísticas, achei estranho ver tanta gente nas ruas. Mesmo sendo domingo e Itália. Listinha na mão, vamos ao primeiro hotel: €55, sem café da manhã. Eu, por mim, ficava aí mesmo, mas como fazia o tipo quase espelunca, o bonitão não quis. Toca pro 2° hotel; lotado. No caminho pro 3° hotel - € 95; muito caro – vi que tinha gente nas ruas que não se acabava mais. Vamos ao 4° hotel, mais caro ainda. Deve ter uma festa na cidade, nunca vi tanta gente. Não tem mais hotel no centro (?), resolvemos então procurar a casa de uma senhora que aluga quartos. €45. Eu, que alem de pobre sou pão-dura, ficava aí. Mas era outro do tipo quase espelunca. Então, vocês já sabem, o bonitão não quis.
-Vamos voltar pro 1°hotel, sugeri.
-Prá espelunca? De jeito nehum. Vamos para o 3° hotel.

Meia hora de discussão depois, deixo ele vencer. Só pensei cá comigo: “Uai, tá bom, num sô eu que tô pagando mesmo, vambora.” Enfim, fomos pro 3° hotel. Nisso, já são mais de seis horas da tarde, e a rua é um formigueiro de gente. Lugar pra estacionar o carro, só por milagre; as ruas estão com trajeto invertido e eu, com as pernas moídas de tanto andar de um hotel até outro. Vai daí que o bonitão deu piti e desiste de ficar em Vicenza:
-“Bist du böse wenn wir nach Bassano fahren?, quer dizer, “Cê vai ficar pê da vida se a gente for até Bassano?
Eu não. Não mesmo. Eu só estava era muuuuuito cansada.
E foi assim que fomos até Bassano, depois de ficarmos o dia todo, hmm, passeando no centro histórico de Vicenza. Pelo menos, agora conheço tudinho como a palma da minha mão. O porquê tinha de tanta gente na rua eu ainda não sei. Vou pesquisar no Google para descobrir.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

E o resto da história e como é Bassano, só conto amanhã. Como diria a Emília, quem quiser que conte outra.

10.23.2004

Castelos e viagens

Hoje vim ao Schloß Seggau – Schloßs quer dizer castelo. É daqui que escrevo enquanto ouço o coro ensaiando. Pena que eu tenha esquecido a máquina fotográfica: adoro os castelos, e minha imaginação voa quando visito um.

Existe uma diferença entre o que se chama aqui Schloß e Burg. Este último era projetado como uma fortificação para a defesa da cidades aos ataques dos possíveis invasores. Normalmente têm também armas como canhões, ou aqueles postos de observação de que eu não sei o nome; provavelmente se chamam postos de observação mesmo. Mas para mim, tudo é castelo, com direito a história de príncipe e princesa. E claro, sapo também.

Lembro com prazer dos contos de fadas, Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel. Fico imaginando onde poderia ser a sala de refeições, imagino os copeiros e serviçais desfilando com a prataria, os grandes salões de baile, a sala de armas, os vestidos das princesas e suas aias, o espaço destinado aos cavaleiros e seus cavalos, a sala onde onde o rei despachava com os ministros e dava ordens aos súditos.
E quando abandono esse terreno da imaginação, logo me assaltam outras perguntas e fantasias, outras surpresas e admiração.

Por exemplo, o portão do Castelo de Seggau é, por si só, motivo para me deixar “cismando”. Na grossa madeira alguém gravou a data rusticamente: 1543.
Fico imaginado quem foi essa pessoa - provavelmente um homem – que esteve aqui há tanto tempo antes de mim. Possivelmente, alguém que trabalhou arduamente na construção do castelo, carregando as enormes pedras, forjando o aço, trabalhando a madeira até deixá-la na medida exata, engastando os parafusos, afixando o portão. Suponho que esse trabalhador gravou a data do fim do trabalho. Mas tudo é só suposição e quase tudo é fantasia. Apenas o ano está ali, riscado na madeira.

O castelo Seggau é de facílimo acesso, fica em Leibinitz, não mais que a 30 minutos de Graz. Ali, na cidade, também conheço as ruínas de um Burg, em Gösting. Fica no fim de uma subida muito íngreme, e depois de certa altura, o acesso só é possível a pé. Aí também fico me perguntando sobre como era a vida das pessoas há 500 anos atrás. Como os cavaleiros se deslocavam em caminhos tão íngremes? E como levavam os víveres até lá em cima? E o transporte das armas, da pólvora? Tudo é motivo de indagação. Gosto de ficar concebendo essas fantasias, apesar de saber que as respostas provavelmente serão práticas e funcionais. Taí o tipo de viagem que me agrada… não extrapola orçamentos e a gente vai onde quer.

10.22.2004

Feiertage

Com o fim da 2. Guerra Mundial, a Áustria teve seu território ocupado por cerca de 10 anos.
No 26 de Outubro comemora-se justamente o fim dessa ocupação, bem como também aproveita-se para reiterar a tão decantada neutralidade do país.
Em homenagem ao 26 de Outubro que se aproxima, deixo umas fotos de Graz - copiadas por scanner -, a cidade onde moro. Aqui no Portal de Turismo , além de informações, tem fotos melhores. Fotos sobre a Áustria e informações sobre outras regiões do país, tem aqui. E, diga-se de passagem: As imagens não ficaram boas, mas a Áustria é linda.


Graz
Originally uploaded by Felicia Luisa.




Eggenberg u. mehr
Originally uploaded by Felicia Luisa.




Schloßberg u. mehr
Originally uploaded by Felicia Luisa.


10.21.2004

Ops

Fui arrumar a casa e acabei apagando os comentários. Peço desculpas.

10.20.2004

Feriadão e Filosofia

Se aproxima um feriadão por aqui. Dia 26 de Outubro é o 7 de Setembro deles, feriado nacional. A princípio, iríamos para Ulm, na casa de meu cunhado - linda a cidade; se der, posto umas fotos. (E motivo de orgulho: vocês sabiam que meu bonitão já foi o segundo organista da Catedral de Ulm? Para o povo musical daqui, isso é um feito danado, coisa pra gente grande!). Mas acontece que esse mesmo senhor bonitão marcou um ensaio justo no dia 24...Então, vamos para a Itália, quase com certeza para Vicenza. Nesse pais, já estive também em Veneza (parece esnobismo, mas sinceramente, não fiquei impressionada), a lindíssima Gemona, e Tolmezzo. Cada vez mais, descubro que os lugares para onde o turismo massivo não é direcionado são mais encantadores. Serão só três dias de passeio; já recebi umas dicas do Allan e acho que pelos menos fotos novas vou ter pra mostrar! Pelo que já andei vendo na internet, Vicenza é uma graça!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Acho que vocês já ouviram a expressão:” De graça, eu tomo até injeção na testa.” Ou aquela:” De graça, eu pego até ônibus errado.” Então, quase que eu me oferecei para receber um Gmail de graça (tem uns blogs oferecendo por aí). Mas por aqui, a ignorância grassa em termos computadorísticos e afins, e eu não faço idéia do que é isso. Pra não pagar mico como o do Orkut (pedi para me convidarem, cheguei lá e não entendi nada, com esse meu inglês turbinado), saí de fininho. Hmm, sei não, acho que estou perdendo alguma coisa importante...
Pelo menos de uma coisa, em materia de computador eu entendo: Mac é muito melhor do que Windows. Como uma ignorantona como eu sabe disso? Experiencia propria uai: aqui em casa tem um Mac velho, onde agora até roda um Linuxx, um Mac semi-velho e um lap-top tinindo de novo. Adivinha quem é o único que dá pau? E adivinha onde é que a Dona do Blog andava trabalhando? Pois é, isso é o que a gente chama filosoficamente de empirismo...

10.17.2004

Estou divagando

Ali por volta dos anos 92/93, estávamos eu, Marcelo e Serjão voltando pra casa no finado fusquinha do Luís, que ia dirigindo. Perto da Clínica São Camilo, quase chegando na Rodoviária de Volta Redonda, o Marcelo me pergunta porque eu ia tão calada.
"Nada não", respondi com meu jeitinho Felicia de ser. "Estava só pensando em como é revolucionário isso: estamos andando sentados."
Daí o Luís fez um comentário engraçado, e Serjão emendou com uma discussão mais séria - que era revolucionario mesmo, e que ele sempre pensava a mesma coisa quando usava o telefone, "é incrível como as pessoas podem se falar através da distância", blá, blá, blá.
Hoje em dia, sempre que penso na questão da existência de Deus, a prova definitiva dessa existência é o avião: é só ver um avião que me vem logo o pensamento:"Nossa, Deus existe mesmo". Não tem nada a ver com peso e tamanho, sei lá, não sei explicar.
Por favor, não me peçam encadeamento lógico entre uma coisa e outra; a uma porque eu sou divagadora de nascença, e a duas, porque se voces querem lógica e causos ao mesmo tempo, eu recomendo o blog do Rafael Galvão. Viu, nao falei? Já estou divagando. Por que é que eu ia dizendo isso mesmo? Ah, já sei:
É porque a Wilma veio aqui e comentou que é tao estranho isso, de ficarmos conversando com alguem que nem conhecemos, pessoas tão distantes e desconhecidas... É mesmo, Wilma, esse mundo é tão doido. Só Deus mesmo. Ah, sabia que uma coisa tinha a ver com a outra...

.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x..x.xx.x.x..xx..x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.


Se existe uma coisa capaz de me tirar do sério, essa coisa é um mosquito. E para minha tristeza, tenho ouvidos extremamente sensíveis a esse inseto chato: sou capaz de ouvir um zumbido irritante mesmo estando na sala, que fica na parte de cima da casa, e o infeliz aqui em baixo. Foi o que aconteceu hoje: o dia foi lindo, chegamos a 14°C, com sol e tudo. Escancarei a janela, deitei no sofá, abri meu livro e pronto, acabou o sossego: sou capaz de ler concentradamente com alguem tocando tuba do meu lado, mas mosquito zumbindo, nao dá, é muita tortura.
Eu nunca vi bichinho mais resistente; gastei muito do meu Vandal - o Baygon daqui. Espero nao ter problemas com a Sociedade Protetora dos Animais. E o pior é que o danado só morreu depois de uns quinze minutos. Mas morreu. Bem feito. Palhaço.

10.15.2004

E não há nada de novo debaixo do sol...

1 Palavras do Eclesiastes, filho de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade de vaidades, diz o Eclesiastes; vaidade de vaidades, tudo é vaidade.
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?
4 Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre.
5 O sol nasce, e o sol se põe, e corre de volta ao seu lugar donde nasce.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos.
7 Todos os ribeiros vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios correm, para ali continuam a correr.
8 Todas as coisas estão cheias de cansaço; ninguém o pode exprimir: os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? ela já existiu nos séculos que foram antes de nós.


1 Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;
4 tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
6 tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
7 tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8 tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.

15 O que é, já existiu; e o que há de ser, também já existiu; e Deus procura de novo o que ja se passou.



Outono
Originally uploaded by FeliciaLuisa.




Inverno
Originally uploaded by FeliciaLuisa.






Primavera
Originally uploaded by FeliciaLuisa.




10.13.2004

Vida de Imigrante

A Áustria, como se sabe, não é lá muito simpática com sseus imigrantes . Apesar disto, dá para ressalvar iniciativas boas. Uma delas é o projeto KISS (Kommunikation, Integration, soziale Kompetenz e Sprachentrainig), que aqui em Graz, funciona numa parceria entre o que vou chamar de “Conselho Municipal” e o BFI, uma instituição privada.
O KISS é voltado apenas para mulheres imigrantes. E é grátis. Há desde relativas novatas como eu, que moro aqui há dezesseis meses, até mulheres como Angelika, da Croácia, que já está aqui há quinze anos. Nas sextas feiras, nos reunimos para um bate-papo: conversamos sobre as singularidades entre culturas e países, nossas dificuldades aqui, com a língua, os costumes, a cultura, a comida, a temperatura, enfim, falamos sobre o que há para rir e para chorar. Também recebemos noções básicas, que de outro modo, se custa muito a aprender: onde se vacinar contra sei lá o quê, quais os documentos que preciso e para quê, onde procurar os direitos do consumidor, onde conseguir creche para os filhos, os hospitais que existem e quais as especialidades etc, etc. É também a oportunidade de treinar a língua sem constrangimentos. Nos sábados, tratamos de temas mais específicos. Uma psicóloga ou assistente social discute conosco coisas do tipo:”como superar conflitos”, “como manter a auto-estima “,“como se apresentar para uma entrevista de emprego”, “como escrever uma carta de apresentação e um curriculum”, como passar uma boa impressão ao telefone”, e mais uma dezena de assuntos que são tão simples em português - soa até ridículo -, mas que aqui, já me levaram às lágrimas de desespero – e muito mais de uma vez.
Ás vezes me sinto burra total, a auto-estima vai muuuuuito lá pra baixo; eu, que sempre me achei inteligente e articulada, fico me sentindo agiu (A Grande Imbecil do Universo). Porque desconheço os códigos, porque ainda não domino a língua, porque ainda não me ambientei, porque tenho medo de estar fazendo algo proibido por pura ignorância de regras que me são alheias, etc, etc, etc. Para mim o KISS funciona como válvula de escape, terapia, ambiente de comparação, crescimento e estímulo. Eu me sinto melhor ao perceber que muitas das neuras que tenho aqui não são só minhas, que é um processo normal de quem deixa suas raízes e ainda não as tem firme em outra terra, é uma conquista gradual de espaço e segurança. Se é assistencialismo? Que seja. Alguém tem que ajudar com a terapia...

Outra coisa legal é que no KISS discutimos sobre nossa condição aqui, traçando paralelos com nossos países de origem. E aí ficam patentes os clichés e a ignorância que temos sobre outras culturas e histórias: O Brasil, por exemplo, só é conhecido pelo Rio de Janeiro, samba e carnaval. Mais não existe (mentira, uma vez alguém comentou sobre a Amazónia). E foi assim que eu travei contato com mulheres do Afeganistão e soube que sim, elas tem permissão para trabalhar e estudar em muitos territórios– eu achava que era terminantemente proibido. Também convivi com adolescentes que respeitam o Ramadã por opção própria, sem forçação de barra por parte dos pais ou os mais velhos.
Tem as histórias comoventes também. Pena que eu não saiba traduzir em palavras as tantas situações que já presenciei. Uma delas aconteceu logo no 2. final de semana.
Manda, uma mulher da Bósnia, mora aqui a 15 anos. Alguma de nós perguntou algo sobre seu país e ela disse que não sabia, já que há mais de 10 anos nunca havia voltado lá. Perguntamos o porque, e ela disse que já não tem para onde voltar, e mais: já não tem vontade nenhuma de voltar: outras pessoas agora ocupam sua casa. Tudo o que ela deseja da Bósnia agora é esquecer. No grupo há uma mulher da Sérvia, com história parecida. E tudo o que ela quer é o contrario do que deseja Manda: apesar das histórias de dor, sofrimento e perdas com a guerra, ela não quer esquecer. Sua cidade agora faz parte de outro país. Mas continua sendo sua cidade. A emoção na sala era era absolutamente palpável enquanto as duas contavam como a guerra entre os dois países afetou suas vidas.
Tem a história da Juliet, que veio do Iraque: ela não pode telefonar para casa porque o cabo telefónico se estragou no tempo da guerra. Tem notícias dos irmãos cerca de uma vez por mês, quando eles conseguem ligar, e foi através deles que ficou sabendo que alguns amigos tinhas sido sequestrados.
Tem histórias de perda da auto-estima: a de uma mulher islâmica, que trabalhava como secretaria em seu país. Seu pai era médico e a mãe, professora. Aqui, tudo o que conseguiu foi lavar janelas para uma firma. Ao fim do primeiro dia, quando o encarregado perguntou se ela poderia fazer o serviço outras vezes, ela não conseguiu responder. Só chorou.
Tem histórias e histórias. A minha é uma delas. Outro dia eu conto. Por enquanto, agradeço publicamnte ao KiSS, a Birgit, a Roswitha, a Frau Cano - que não é do KISS, mas uma professora gente finérrima e de bom coração; e a outras pessoas que tem me ajudado a segurar a onda aqui.
Pensando bem, aqui tem muita gente boa.

10.12.2004

Help

Gente, alguem pode me explicar o por que de, quando eu abro o blog pelo Netscape ou pelo Ópera, tá tudo bonitinho em matéria de formatacao, os links aparecem ali do lado direito logo no alto da pagina, os ultimos post, tudo ok; mas quando eu abro o blog pelo Explorer tá tudo desconfigurado? Serio mesmo, se alguem puder ajudar essa mulher ignorante, será o portador de meus mais sinceros agradecimentos.

10.11.2004

Fernando Sabino

Que pesar, que dor que me deu no coração. Acabo de ler sobre a morte do Fernando Sabino, que já me deu tantas alegrias e prazer ao lê-lo. Fernando tinha um dom muito especial, que era o de me fazer sentir íntima de sua escrita; me fazia sonhar, e eu sonhava que era parte do grupo dos quatro Cavaleiros, me fazia acreditar que, em suas cartas estava falando também sobre a minha vida, e esses foi só um dos motivos porque gostei dele. Fernando, querido, estou puxando uma angústia danada por sua causa. Que bom que sua prosa continua. Mas que falta que você me faz.

10.10.2004

Mundo Pequeno

Que bacana!! Agora eu sou chique e estou lá no Mundo Pequeno. Noooossa, que legal!!

Outono, banalidades e afins

Escrevi nm dia desses que o dia amanheceu com nuvens cor de chumbo, sinal inequívoco de que iríamos ficar muito tempo sem ver o sol. Que mentiras deslavadas eu ando escrevendo por aqui! Tivemos até ontem uma espécie de veranico aqui na Áustria. O nome disso por essas plagas é “Altweibersommer”, que os mais gaiatos traduzem como “verão para mulheres velhas”, - mas eu, com essa elegância que me caracteriza, jamais escreveria uma coisa dessas no meu blog. E se alguém disser que leu isso aqui, não acreditem. - Pois é, mas voltando onde estávamos, hoje a chuva veio farta. Primeiro bem cedo pela manhã. E então uma tarde abafada que me fez ter saudades do Rio de Janeiro. À tardinha chuva de novo. E frio. Agora, acho que é pra valer: o outono finalmente chegou.O que isso significa? Dias tristes, um céu pintado de cinza, pesado, denso, triste. Dessa vez, sem mentiras.


Da secão banalidades:

-Eu nunca vi uma barata aqui na Áustria. Sério mesmo. Nem cadáver de barata eu nunca vi, daqueles que ficam só a casquinha seca. Eu fico encasquetada com isso, porque sempre li que esses animais, ops, insetos, sao os seres mais resistentes do planeta, tem extrema capacidade de adaptação, resistem até à radiacão provocada pela bomba atômica, etc, etc. Seria tudo isso um blá-blá.blá? Como explicar que as baratas tenham desaparecido da Áustria? Estou desenvolvendo a teoria da conspiração baratal, mas por falta de argumentos sólidos, vou dormir antes de pensar mais seriamente no assunto. Antes disso, preciso dizer pra Nandinha, minha irmazinha com pavor de baratas: vem me visitar, irmazinha. Fora n%zist&s e outros bichos, o país é inofensivo.

10.07.2004

A vida como ela é

Já contei pra voce que em inglês, eu não sei falar nem I love you? É eu não sabia. Mas meus problemas acabaram e nao tem nada a ver com a Organização Tabajaras: resolvi frequentar o curso de inglês. A 1. aula foi essa semana, e qual não foi minha satisfação e surpresa ao perceber que estava entendendo tudo, absolutamente tudo o que a professora dizia…quando ela falava em alemão. Bem, como já dizia mamãe, não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe. A noitinha fui pra aula de latim (é, eu TENHO que estudar latim, que é pressuposto para filosofia, e se alguém rir, eu taco pedra!). Lá vou eu para minha 1. incursão na universidade e, para minha satisfação e surpresa, percebi que estava entendendo tudo, absolutamente tudo o que a professora dizia…quando ela deixava o alemão e falava em latim. É meus amigos, é da vida.
E mais não digo.

10.03.2004

Versinhos

Hoje amanheci criando versinhos sublimes como esses:

Depressão rima com menstruação
Uma não se vai, outra também não
Se eu me chamasse Raimundo,
Seria uma rima, não uma solução.
Menstruação rima com depressão
Uma vem, outra vem também
Isso acontece todo mês
Em nome do Pai, Esp`rito Santo
Amem.

.x.x.x.x.x.x.x..x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

Aí, uma coisa puxa a outra foi só eu pensar no Drummond e me deu uma vontade desesperada de ler o “Rosário de Minas – Memórias e Sugestões”, de Octavio Mello Alvarenga. Meu Deus, meu Deus, eu pre-ci-so ler este livro. Vou apelar e copiar descaradamente a tática do Alexandre:: Ninguem quer me dar o livro de presente???Bom, perguntar não ofende, né gente?? Na lista de desejos urgentes tambem estão: "Como e por que ler os Clássicos", da Ana Maria Machado, e "Como e por que Ler o Romance Brsileiro, da Marisa Lajolo. Fica aí o pedido de uma pobre mulher carente de leitura.E é capaz até da depressão ir embora...

10.02.2004

Tornando o Mundo Mais Bonito

O iogurte de que eu gosto é fabricado pela NÖM (www.noem.at). A embalagem é uma graça, vem com umas fadas, assim sabe? Se você não sabe, imagine. Tem sabores Amarena-Amêndoa, Cappuccino, Baccio, Tiramusi, Maçã-Canela, hmmm, muito bom. Mas o mais legal, é que a embalagem é um copinho de plástico envolto num papel onde está escrito: “Wir von NÖM bitten Sie: Schonen Sie die Umwelt. Entsorgen Sie Becher und papier getrennt.”
Quer dizer mais ou menos assim:”Nós da NÖM pedimos ao senhor: Cuide do meio-ambiente. Descarte o papel e o copinho separadamente.” O povo daqui já pratica quase que automaticamente a reciclagem, cada esquina, rua ou conjunto de prédios tem coletores de lixo específicos. Mas a iniciativa da NÖM é bacana de qualquer modo. Pelo menos neste sentido, a Europa está realmente no 1. Mundo.

Ontem, ao comprar o iogurte, me lembrei dessa reportagem já antiga, mas com tema atual, que o Marcos Correa de Sá publicou em 29/02/2004 lá no No Minimo:

Madeira plástica tem que ser de lei

29.02.2004 | Calma. O planeta ainda não chegou ao ponto de lhe pedir para mobiliar a casa com madeira plástica. Mas está ficando difícil explicar por que ainda é preciso derrubar árvores para fazer banco de jardim, mesa de varanda, mourão de cerca, caibro de telhado, estaca de píer ou deque de piscina. Tudo isso já se pode ter sem ligar a motosserra, com ripas que vêm do lixo, em vez de serem arrancadas das florestas.

E às vezes o que é feito com ela sai até melhor do que se fazia antes, como acontece com os dormentes. Nesse caso, posta sob as linhas ferroviárias, onde as toras clássica de eucalipto, encharcadas de creosoto, porejam ao longo de sua vida útil um veneno capaz de contaminar o solo, a madeira plástica brilha como trilhos, indicando o caminho por onde certamente correrão as estradas de ferro do futuro.

É que, ao contrário da madeira natural, a plástica vem de fábrica imunizada contra fungos, cupins e outras pragas. Dura, deixada ao tempo, pelo menos 50 anos, sem aditivos tóxicos. Resiste a cargas de até 80 toneladas, que reduziriam dormentes convencionais a maços de farpas. E amortece as vibrações que esmerilham os rolamentos dos trens, coisa que um bloco de concreto não consegue.

Mas o melhor é que a madeira plástica é feita de frascos, garrafas, copos descartáveis, embalagens e outros fantasmas de poliolefina que poluem a xepa urbana. Sobretudo no Brasil, onde 76% dos resíduos são jogados a céu aberto e a nata de PET que bóia na Baía de Guanabara tem sido o indício mais persuasivo de que o programa de despoluição botou fora onze anos e US$ 800 milhões de dólares.

Ver a madeira plástica brotar como pasta de bisnaga – com forma, textura e até cor da madeira verdade – do caldo de entulho petroquímico digerido pela máquina parece mágica até para quem aposta pesado nesse novo trunfo da reciclagem. “Sempre que ela sai do molde eu me impressiono como da primeira vez”, diz Geraldo Pilz, que fabrica por semana três toneladas de madeira alternativa na Baixada Fluminense.

Ele é dono da Cogumelo, uma fábrica de perfis em fibra de vidro plantada em Campo Grande, a antiga Zona Rural do Rio de Janeiro. Pilz tem 65 anos. Sua fábrica, 31. Mas ambos ainda vivem correndo atrás de atrás de novidades. Ele é aquele tipo de empresário que conversa com a mão no ombro do funcionário, “para ele relaxar”. Formou-se em economia, mas vai logo avisando que não tem nem quis ter M.B.A., o diploma americano de mestrado em administração que se traduz em português por altos salários em administração de empresas. “Eu só tenho T.B.C.”, declara.

T.B.C. quer dizer: “Tire a Bunda da Cadeira”. É o mesmo diploma que ele cobrou do filho, para quem vai agora passando aos poucos as rédeas da empresa. Daniel Pilz nasceu no mesmo ano da Cogumelo, fez em desenho industrial. Foi campeão sul-americano de wind-surf e andou metido com pára-quedismo e vôo-livre. Estava quase se profissionalizando em esportes radicais quando o pai o chamou da Austrália para cursar o T.B.C. em Campo Grande.

Chamar a Cogumelo de empresa familiar é eufemismo. Além de Daniel, Áurea, a mulher de Geraldo, trabalha na administração da fábrica. Os três têm o hábito de chegar cedo e sair, comer de bandejão e encaixar visitas a clientes em viagens de recreio. O filho, nos fins de semana, veste a camiseta da firma e carrega sempre em cima do carro, um Land Rover, as escadas de alumínio e fibra de vidro que foram o penúltimo lançamento da fábrica, antes da madeira plástica.

É um modo de mostrar ao mundo que ela existe. Essas escadas desembarcaram no Brasil há poucos anos. Ao resolver produzi-las aqui, com licença da Werner Ladders americana, Pilz foi visitar pessoalmente velhos fabricantes de escadas de madeira no mercado nacional, para lhes falar das excelências do similar em liga leve. Queria, na época, oferecer-lhes a matéria-prima. “Mas eles me puseram para correr e não tive outro jeito senão fabricar eu mesmo as escadas”, conta Pilz. Dispensado como fornecedor, tornou-se concorrente da indústria tradicional e acabou por lhes tomar grandes clientes, como companhias de eletricidade, telefônicas e até bombeiros.


Aliás, “a vantagem de circular com essas escadas na capota é que as pessoas pensam que meu carro é da Telerj”, explica Daniel. Em teoria, assaltantes não se interessam por carros da Telerj. Na prática, a família inteira se comporta como propaganda ambulante da Cogumelo, que originalmente se especializava em produtos mais ou menos obscuros, como cabos, tubos, grades e outros produtos de uso industrial.

Oficialmente, ela se apresenta como uma fábrica de “pultrudados”. Mas não adianta procurar no dicionário. A palavra não existe. É um neologismo estritamente técnico, trazido diretamente do inglês para batizar o processo contínuo de modelagem da fibra de vidro em formas quentes. Trata-se, em resumo, de uma variante patenteada da extrusão. Nos primeiros tempos, dava um trabalho danado explicar aos leigos o que vinha a ser aquele “pultrudado” impresso no logotipo da firma, cada vez que Daniel parava o Land Rover em estacionamentos públicos.

Com tais antecedentes, vender madeira plástica num país que ainda não começou a comprá-la é o de menos para os Pilz. Não é a primeira vez que eles promovem soluções para problemas que não parecem incomodar os brasileiros. A própria Cogumelo só está aí porque, trinta e tantos anos atrás, Geraldo Pilz se rebelou contra o conteúdo das caixas de componentes importados que costumava abrir na Caterpillar da Bahia. Era então gerente de peças. E não entendia por que o Brasil deveria que trazer do exterior bugigangas que qualquer país é capaz de fazer, como “tijolo de ferro com um furo no meio” ou lâmpada G&E para trator Caterpillar.

De tanto dicsutir, mudou-se para a Sotreq, no Rio de Janeiro. Onde continuou recebendo os mesmos contêineres com as mesmas encomendas. “Não era isso que eu queria fazer na vida”, ele alega. Demitiu-se, pegou o fundo de garantia e, “com a cara, a coragem e a mulher grávida”, fundou em 1972 a Indústria de Componentes de Tratores Ltda. Era um oficina de fundo de quintal. Fazia tetos em fibra de vidro para trator porque, naquele tempo, “tratorista tinha que trabalhar num banco aberto, cozinhando ao sol”.

O produto emplacou. Emplacou tanto que, na virada dos anos 80, todos tratores nacionais passaram a sair da linha de montagem com tetos iguais ao seu, mas feitos pelas grandes marcas. A fabriqueta de Pilz foi à lona. Chegara a fazer 80 cabines por dia. Estava reduzida a meia dúzia. E, para piorar as coisas, o proprietário tinha brigado com os antigos clientes, processando-os por abuso de poder econômico. Foi quando caiu nas mãos de Pilz uma revista técnica, contando que nos Estados Unidos já se faziam perfis em fibra de vidro pela tal da pultrusão.

“Fui na mesma hora para lá, bater na porta de quatro empresas, com meu inglês de índio”, ele lembra. “Numa delas, a da Pensilvânia, o sujeito que me recebeu estava usando botas. Eu me senti no lugar certo. Fomos almoçar. Pedi-lhe para comprar a tecnologia, mas não as máquinas, porque isso o Brasil podia fazer para mim. Ele topou e quis saber quando eu mandaria para meu engenheiro para o treinamento. Respondi que o engenheiro tinha que ser eu mesmo”.

Pagou o know-how em oito parcelas. Ao fechar o contrato não tinha dinheiro para a primeira prestação. Mas, no Rio, os funcionários se reuniram com Áurea e lhe ofereceram um crédito no valor do décimo-terceiro salário que tinham a receber. Dos 30 empregados que entraram nessa coleta, 15 trabalham até hoje na casa. Os outros só saíram aposentados.

Com o fiasco das cabines de tratores, ele tinha aprendido “que no Brasil a gente tem que diversificar, para resistir. Senão, quando vem uma crise, e aqui sempre vem uma crise, o empresário demite os funcionários que não tinham nada a ver com isso. Quem tem obrigação de prever a crise é o patrão”. Hoje, a Cogumelo funciona com 150 funcionários.

Pilz chegou à madeira plástica de tanto procurar opções conta os achaques do mercado. “Na ocasião, nem me passou pela cabeça que ela também tinha vantagens ambientais. Depois é que a ecologia me entrou no sangue. Mas estava mesmo era querendo um jeito de depender menos das multinacionais que me fornecem a matéria-prima. Fibra de vidro custa muito caro para o Brasil. Eu geralmente acompanho seu preço, comparando-o com a cotação do quilo de filé-mignon”.

O remédio estava na reciclagem de lixo. Pilz pôs o olho nas fábricas americanas que, nos anos 90, tiraram proveito da legislação ambientalista. Depois que as construtoras tiraram as mãos das últimas reservas públicas de cedro e sequóia, até madeireiras tradicionais, como a Georgia-Pacific e a Weyerhaeuser, deram para oferecer aos consumidores deques pré-fabricados em madeira plástica.

Pilz comprou a tecnologia de Scott Hauser, ex-sócio minoritário da U.S. Plastic Plumber, pioneira do ramo. E fez o serviço completo. Trouxe-o ao Brasil para ver como funciona a coleta de lixo no aterro sanitário de Gramacho, com crianças disputando espaço com urubus. “Sou da opinião que eles têm que conhecer nossos problemas”, diz ele. Também lhe ofereceu, neste verão, um mês de férias no Rio de Janeiro por conta da empresa, aproveitando sua presença aqui para dar os últimos retoques em sua máquina.

A Cogumelo sozinha. Sua madeira plástica não tem concorrência, exceto a que é feita, por processos meio artesanais, numa fazenda devotada à recuperação de drogados no interior de São Paulo. O problema é que o país mal sabe que ela existe. A começar pelos marceneiros. Ela pode ser furada, serrada, aparafusada e pregada como a madeira comum. Dispensa verniz. Vem tingida de fábrica, para sempre. Custa mais ou menos o mesmo que o metro quadrado de pinho. Sai da fábrica em vários calibres. E seu comprimento, como não tem relação com altura de árvore, só tem um limite: a capacidade que tem o cliente de transportá-la.

Então está tudo resolvido? “Não”, responde Pilz. Porque falta, como sempre, a parte do governo. “E não estou pedindo favor nenhum”, ele ressalva. Só quer que a lei descubra a madeira plástica. Nos Estados Unidos, ela pego graças aos dispositivos que inibem o desmatamento ou proíbem caminhões que transportam alimentos de usar prateleiras de compensado natural, sujeitas a rachadores que viram ninhos de fungos. Por por essas e outras, 25 fábricas americanas já fazem madeira plástica, produto que mal passou do décimo aniversário.

Aqui, a Cogumelo tem que montar bancos e mesas de jardim, para mostrar que a reciclagem funciona. Basta-lhe uma única máquina para suprir toda a demanda. Mas a Companhia Vale do Rio Doce encomendou, experimentalmente, os primeiros dois mil dormentes de madeira plástica. Dois mil dormentes dão um quilômetro de linha férrea. E consomem 160 toneladas de lixo plástico.

Quer saber o que isso significa? Multiplique a equação da CVRD pelos trilhos da rede ferroviária nacional. Ou por qualquer outra equação que troque por ela a madeira vegetal desperdiçada em portos, construção civil ou cercados. O resultado, conclui Geraldo Pilz, “é que a esta hora eu estaria cercado de concorrentes e pagando anúncios na televisão, pedindo para comprar a domicílio todo o lixo plástico que os cariocas quisessem me vender. Dava para buscá-lo de casa em casa. E ele sumiria de nossas cidades, como sumiu a lata de alumínio, desde que o Brasil resolveu reciclá-la”.
 
eXTReMe Tracker