11.05.2004

E=mc2. E meu pai

E=mc2 é uma das equações mais famosas do mundo, e provavelmente uma das mais incompreendidas. A atriz Cameron Diaz, quando perguntada sobre a existência de algo que ela gostaria de saber, respondeu que gostaria de saber o que E=mc2 realmente significa. Pelo menos, é isso o que diz o autor David Bodanis, na introdução do livro que leva o nome da equação.

Eu já o havia lido há alguns anos atrás. Acontece que desde a morte do meu pai, este livro não me saía da cabeça, e por isso, resolvi relê-lo. Acho que por que foi inevitável deixar de associar ideias ligadas a morte e curiosidade com o que se passa depois, com temas como matéria, corpo, massa, energia, etc. Um parênteses: Li lá no Polzonoff: “A morte... por um tempo que pode durar meses ou anos, torna viva a pessoa morta numa explosão de lembranças muitas vezes involuntária. Então, se eu pudesse dar um conselho aos amigos que são pais e mães, diria para tentarem forjar só boas lembranças na cabeça de seus filhos. Sejam bons pais, viu? E a todos nós, filhos, que nos esforçássemos para construir boas lembranças pra todo mundo. Ah, mas essa velha senhora está divagando de novo. Fim do parentêses, vamos voltar pro livro:

Bodanis escreve de modo muito claro e acessível, voltado para um público leigo, e para gente que como eu, atinge o cúmulo da ignorância em termos de física; por isso o livro acaba sendo muito fácil de ser digerido. Além do mais, o autor faz um certo tipo engraçadinho de que eu gosto (não sei se a memoria está falhando, mas acho que já ouvi o Bodanis ser muito esculhambado pela inteligentzsia – é assim que se escreve? – do IFCS, o que não tem nada a ver como caso que estou escrevendo, exceto por uma pequena piada particular).

O livro começa com uma pequena “biografia” da própria equação, e em resumo, muuuuito por alto, é assim:

A ciência ficou um bom tempo estacionada nas descobertas que surgiram graças a dois homens: o primeiro foi o famoso Faraday. A Lei da Conservação da Energia surgiu graças aos estudos dele. O outro mocinho foi Lavoisier: Foi a partir das experiências de Lavoisier que se descobriu que a quantidade de massa do universo permanece sempre a mesma, independente das transformações que esta sofra.

Então, como eu ia dizendo, a ciência ficou um tempão parada aí nesse pé: energia e massa são sempre conservadas, e isso era algo assim como um dogma - inquestionável. Até que Einstein apareceu e descobre que não: energia e massa não são conservadas. Mas isso não quer dizer que exista o caos, pois ...a quantidade de massa que se ganha será sempre contrabalançada por uma quantidade equivalente de energia que se perde.” Einstein teve a genialidade de decobrir que o fator C (do latim Celeritas=ligeireza) que é a velocidade da luz, elevado ao quadrado é exatamente o fator de conversão necessário entre massa e energia, a ponte que mostra que energia e massa estão conectados.

Alôôôô, ainda tem alguém aí? É sério mesmo, gente, o negócio é legal e fácil de ser entendido, acho que eu não sou boa para explicar, mas o livro é ótimo. O exemplo do Bodanis:

Imagine um ônibus espacial viajando quase a velocidade da luz. Em circunstâncias normais, bastaria que o motorista bombeasse mais combustível – emergia – para que a velocidade aumentasse. Mas, prestes a atingir a velocidade da luz, as coisas são diferentes: o ônibus simplesmente não pode andar mais rápido que a luz. Apesar disso, digamos que o motorista insista em continuar bombeando combustível: o resultado é que a energia é forçada a se transformar em massa. Visto de fora, a massa sólida do ônibus espacial começa a crescer, e se você continuar a bombear energia, ele continuará a inchar. O que está acontecendo é que a energia que é bombeada para dentro dos protons ou para dentro do ônibus espacial imaginário se transforma em massa extra. Exatamente como afirma a equação: que “E” pode se tornar “m” e que “m” pode se tornar “E”.
É isso o que explica o “c” da equação. No exemplo, à medida que você se aproxima da velocidade da luz, é que as ligações entre Energia e massa se tornam especialmente claras. O número “c” é meramente um fator de conversão que informa como opera essa ligação.


O livro não pára por aí. Bodanis segue falando das consequências da descoberta de E=mc2, a criação da bomba atómica, o que foi, o que poderia ter sido, e provavelmente o que será o futuro do Universo. Eu já disse que ele faz o tipo engraçadinho e tem até uma parte onde esculhamba com o Poincaré – antes que alguém diga alguma coisa, eu assumo que não li mais do que as primeiras paginas do “não sei que lá das ciências” (esqueci o nome, desculpem), que o Professor Japiassu recomendou. Mais alem desse lado engraçadinho, o livro impressiona. Pelo menos eu, leiga total, fiquei impressionada. E recomendo.

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Provavelmente, esse foi o último livro em português do ano, já que PRECISO me dedicar ao deutsch. E eu nem falei o que aconteceu com o “Terra Nostra”, né? Pois é, terminei já faz um tempinho, 8mas demorei um tempão pra acabar a leitura): nunca um livro me foi tão pesaroso. Não sei se foi por culpa do Carlos Fuentes, mas da minha culpa eu sei: Acho que é um livro para se ler de um fôlego só – até para que não se perca o fio da meada. Esse não foi o meu caso: acontece que o início da minha leitura coincidiu também com o início do curso de latim, do curso de alemão e do curso de inglês. Não pensem que sou estudiosa e tive que me concentrar nos cursos. Pior: fiquei com uma sensação de culpa danada, porque na verdade não me concentei em nada. Pegava no livro e lá vinha o pensamento:”Olha a redação em deutsch.”; começava a redação em deutsch e lá vinha o pensamento: ”Mas você deixou o livro de lado? Que o pecado.” Então, acabei lendo pela obrigação de ler, e não mais pelo prazer, coisa que detesto. Pois é, eu funciono assim, fazer o quê? Terapia, tá bom, brigadim.
Enfim: no ano que vem, decido se vou reler o Fuentes, ou não. E aí comento. Enquanto isso, estou tropeçando - muito - no alemão, mas gostando de ler “Die Stadt der Träumenden Bücher”.

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