10.30.2004

Nao

Não, eu não sou a namorada do Homem-Aranha.

10.29.2004

Outro assunto

Ai, que me deu uma preguiça, não vou contar mais nada sobre a ida a Itália, não. Ah, gente, pensa bem, tudo o que eu disser vai ser clichê, vocês sabem como a Itália é charmosa e tudo o mais. Além do mais, blog sobre o assunto é aqui
e aqui. E eu tô pensando em outra coisa agora; realmente, não vai dar. Vou deixar as fotos aí, e o resto vocês imaginam , ok?!

Tá bom, então vou contar só uma coisa, que vocês tem que saber se um dia forem àquele país, especialmente se você faz o tipo mijão – não acredito que estou escrevendo isso aqui, a que ponto eu cheguei -: Sabiam que, em muitas cidades da Itália, o banheiro, ou mais propriamente, o vaso sanitário deles é só um buraco no chão? (mas tem banheiro „convencional“ também, o negócio é que na ora da necessidade nem gente a sempre acha um). Quando estive em Veneza, fiquei assim meio traumatizada, sei lá, esse negócio de ficar agachando em cima de buraco pra fazer xixi, aí, fala sério... Dessa vez, fui preparada: Se eu entrasse num WC, e fosse banheiro tipo „os nossos“, ok, fazia meu xixi tranquila; se não, eu segurava as pontas até chegar no hotel. Só no último dia, é que, estando literalmente muito apertada, usei o tal buraco (estou me referindo ao tal buraco no chão, ô engraçadinho). Bem, cada um sabe onde a necessidade aperta, não é mesmo? Pra terminar, prometo que nunca mais prometo nada por aqui. E tendo dito, aquele abraço.

Vicenza
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Vicenza
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Bassano: Porta delle Grazie
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Bassano
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Bassano: Ponte Vecchia
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Bassano: eu pelas vielas
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10.27.2004

Latim, Falação e Notícias Sobre uma Curta Visita à Itália

Hoje teve aula de latim. Cheguei tarde e saí cedo. Como é muito desagradável chegar atrasada e incomodar a professora e os colegas, eu, que sou uma libriana muito ciosa do modo elegante do ser e por isso mesmo muito metida a besta, fiquei sentada na penúltima fileira. Bem na frente de um povim que só fez fofocar a aula inteira. E daí? Uai, daí que eu não consigo me concentrar nem em português com cinco pessoas falando ao mesmo tempo, quem dirá em alemão?! Si ferrei. Então, foi com essa já declarada e notável elegância que me ergui do meu assento e abandonei a aula pelo meio. Vim pra casa, contar pra vocês como foi a visita à Itália.


Sobre uma Curta Visita à Itália


É incrível como a paisagem muda em tão pouco tempo de viagem, entre um lado e outro dos Alpes. Do lado austríaco, o outono está um escândalo de multicor: As árvores tem folhas que vão do mais opaco amarelo até o vermelho vibrante, mesclado com diferentes tons de verde, laranja e dourado. Cor de incêndio. O tom seguinte será o marrom: com a proximidade do frio intenso, as árvores vão ficando cada vez mais secas e nuas. Depois se cobrem de neve, e esse espetáculo de cores só volta com a primavera. Só para continuar um pouco pernóstica, eu diria que são os últimos estertores do Outono antes do frio abissal, mas vou poupar vocês, tá? Por enquanto, digamos que até Outubro, as cores do”nosso” Outono estão mais vibrantes que as do lado italiano: por lá, a natureza ainda trabalha nas variações de verde.

Chegamos em Vicenza por volta de uma hora da tarde, e nosso destino era o centro histórico, a parte antiga da cidade. O almoço – massa – foi bom, mas o que me chamou a atenção enquanto comíamos foram os mendigos que vieram até nossa mesa. Na Áustria, temos mendigos também. A diferença é que –pelo menos em Graz - eles sentam defronte às igrejas ou nas ruas de grande movimento e se limitam a estender a mão, pedindo ajuda aos passantes. Na Itália, os mendigos agem como os colegas brasileiros: vão até as mesas e pedem ajuda às pessoas. Meu pensamento foi o título de uma reportagem que li, sobre a União Europeia. Pensei: “Para onde vai a Europa?” Parece que a miséria vem caminhando em passos cada vez mais largos.

De barriga cheia, toca a procurar hotel. No caminho até o centro de informações turísticas, achei estranho ver tanta gente nas ruas. Mesmo sendo domingo e Itália. Listinha na mão, vamos ao primeiro hotel: €55, sem café da manhã. Eu, por mim, ficava aí mesmo, mas como fazia o tipo quase espelunca, o bonitão não quis. Toca pro 2° hotel; lotado. No caminho pro 3° hotel - € 95; muito caro – vi que tinha gente nas ruas que não se acabava mais. Vamos ao 4° hotel, mais caro ainda. Deve ter uma festa na cidade, nunca vi tanta gente. Não tem mais hotel no centro (?), resolvemos então procurar a casa de uma senhora que aluga quartos. €45. Eu, que alem de pobre sou pão-dura, ficava aí. Mas era outro do tipo quase espelunca. Então, vocês já sabem, o bonitão não quis.
-Vamos voltar pro 1°hotel, sugeri.
-Prá espelunca? De jeito nehum. Vamos para o 3° hotel.

Meia hora de discussão depois, deixo ele vencer. Só pensei cá comigo: “Uai, tá bom, num sô eu que tô pagando mesmo, vambora.” Enfim, fomos pro 3° hotel. Nisso, já são mais de seis horas da tarde, e a rua é um formigueiro de gente. Lugar pra estacionar o carro, só por milagre; as ruas estão com trajeto invertido e eu, com as pernas moídas de tanto andar de um hotel até outro. Vai daí que o bonitão deu piti e desiste de ficar em Vicenza:
-“Bist du böse wenn wir nach Bassano fahren?, quer dizer, “Cê vai ficar pê da vida se a gente for até Bassano?
Eu não. Não mesmo. Eu só estava era muuuuuito cansada.
E foi assim que fomos até Bassano, depois de ficarmos o dia todo, hmm, passeando no centro histórico de Vicenza. Pelo menos, agora conheço tudinho como a palma da minha mão. O porquê tinha de tanta gente na rua eu ainda não sei. Vou pesquisar no Google para descobrir.
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E o resto da história e como é Bassano, só conto amanhã. Como diria a Emília, quem quiser que conte outra.

10.23.2004

Castelos e viagens

Hoje vim ao Schloß Seggau – Schloßs quer dizer castelo. É daqui que escrevo enquanto ouço o coro ensaiando. Pena que eu tenha esquecido a máquina fotográfica: adoro os castelos, e minha imaginação voa quando visito um.

Existe uma diferença entre o que se chama aqui Schloß e Burg. Este último era projetado como uma fortificação para a defesa da cidades aos ataques dos possíveis invasores. Normalmente têm também armas como canhões, ou aqueles postos de observação de que eu não sei o nome; provavelmente se chamam postos de observação mesmo. Mas para mim, tudo é castelo, com direito a história de príncipe e princesa. E claro, sapo também.

Lembro com prazer dos contos de fadas, Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel. Fico imaginando onde poderia ser a sala de refeições, imagino os copeiros e serviçais desfilando com a prataria, os grandes salões de baile, a sala de armas, os vestidos das princesas e suas aias, o espaço destinado aos cavaleiros e seus cavalos, a sala onde onde o rei despachava com os ministros e dava ordens aos súditos.
E quando abandono esse terreno da imaginação, logo me assaltam outras perguntas e fantasias, outras surpresas e admiração.

Por exemplo, o portão do Castelo de Seggau é, por si só, motivo para me deixar “cismando”. Na grossa madeira alguém gravou a data rusticamente: 1543.
Fico imaginado quem foi essa pessoa - provavelmente um homem – que esteve aqui há tanto tempo antes de mim. Possivelmente, alguém que trabalhou arduamente na construção do castelo, carregando as enormes pedras, forjando o aço, trabalhando a madeira até deixá-la na medida exata, engastando os parafusos, afixando o portão. Suponho que esse trabalhador gravou a data do fim do trabalho. Mas tudo é só suposição e quase tudo é fantasia. Apenas o ano está ali, riscado na madeira.

O castelo Seggau é de facílimo acesso, fica em Leibinitz, não mais que a 30 minutos de Graz. Ali, na cidade, também conheço as ruínas de um Burg, em Gösting. Fica no fim de uma subida muito íngreme, e depois de certa altura, o acesso só é possível a pé. Aí também fico me perguntando sobre como era a vida das pessoas há 500 anos atrás. Como os cavaleiros se deslocavam em caminhos tão íngremes? E como levavam os víveres até lá em cima? E o transporte das armas, da pólvora? Tudo é motivo de indagação. Gosto de ficar concebendo essas fantasias, apesar de saber que as respostas provavelmente serão práticas e funcionais. Taí o tipo de viagem que me agrada… não extrapola orçamentos e a gente vai onde quer.

10.22.2004

Feiertage

Com o fim da 2. Guerra Mundial, a Áustria teve seu território ocupado por cerca de 10 anos.
No 26 de Outubro comemora-se justamente o fim dessa ocupação, bem como também aproveita-se para reiterar a tão decantada neutralidade do país.
Em homenagem ao 26 de Outubro que se aproxima, deixo umas fotos de Graz - copiadas por scanner -, a cidade onde moro. Aqui no Portal de Turismo , além de informações, tem fotos melhores. Fotos sobre a Áustria e informações sobre outras regiões do país, tem aqui. E, diga-se de passagem: As imagens não ficaram boas, mas a Áustria é linda.


Graz
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Eggenberg u. mehr
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Schloßberg u. mehr
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10.21.2004

Ops

Fui arrumar a casa e acabei apagando os comentários. Peço desculpas.

10.20.2004

Feriadão e Filosofia

Se aproxima um feriadão por aqui. Dia 26 de Outubro é o 7 de Setembro deles, feriado nacional. A princípio, iríamos para Ulm, na casa de meu cunhado - linda a cidade; se der, posto umas fotos. (E motivo de orgulho: vocês sabiam que meu bonitão já foi o segundo organista da Catedral de Ulm? Para o povo musical daqui, isso é um feito danado, coisa pra gente grande!). Mas acontece que esse mesmo senhor bonitão marcou um ensaio justo no dia 24...Então, vamos para a Itália, quase com certeza para Vicenza. Nesse pais, já estive também em Veneza (parece esnobismo, mas sinceramente, não fiquei impressionada), a lindíssima Gemona, e Tolmezzo. Cada vez mais, descubro que os lugares para onde o turismo massivo não é direcionado são mais encantadores. Serão só três dias de passeio; já recebi umas dicas do Allan e acho que pelos menos fotos novas vou ter pra mostrar! Pelo que já andei vendo na internet, Vicenza é uma graça!
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Acho que vocês já ouviram a expressão:” De graça, eu tomo até injeção na testa.” Ou aquela:” De graça, eu pego até ônibus errado.” Então, quase que eu me oferecei para receber um Gmail de graça (tem uns blogs oferecendo por aí). Mas por aqui, a ignorância grassa em termos computadorísticos e afins, e eu não faço idéia do que é isso. Pra não pagar mico como o do Orkut (pedi para me convidarem, cheguei lá e não entendi nada, com esse meu inglês turbinado), saí de fininho. Hmm, sei não, acho que estou perdendo alguma coisa importante...
Pelo menos de uma coisa, em materia de computador eu entendo: Mac é muito melhor do que Windows. Como uma ignorantona como eu sabe disso? Experiencia propria uai: aqui em casa tem um Mac velho, onde agora até roda um Linuxx, um Mac semi-velho e um lap-top tinindo de novo. Adivinha quem é o único que dá pau? E adivinha onde é que a Dona do Blog andava trabalhando? Pois é, isso é o que a gente chama filosoficamente de empirismo...

10.17.2004

Estou divagando

Ali por volta dos anos 92/93, estávamos eu, Marcelo e Serjão voltando pra casa no finado fusquinha do Luís, que ia dirigindo. Perto da Clínica São Camilo, quase chegando na Rodoviária de Volta Redonda, o Marcelo me pergunta porque eu ia tão calada.
"Nada não", respondi com meu jeitinho Felicia de ser. "Estava só pensando em como é revolucionário isso: estamos andando sentados."
Daí o Luís fez um comentário engraçado, e Serjão emendou com uma discussão mais séria - que era revolucionario mesmo, e que ele sempre pensava a mesma coisa quando usava o telefone, "é incrível como as pessoas podem se falar através da distância", blá, blá, blá.
Hoje em dia, sempre que penso na questão da existência de Deus, a prova definitiva dessa existência é o avião: é só ver um avião que me vem logo o pensamento:"Nossa, Deus existe mesmo". Não tem nada a ver com peso e tamanho, sei lá, não sei explicar.
Por favor, não me peçam encadeamento lógico entre uma coisa e outra; a uma porque eu sou divagadora de nascença, e a duas, porque se voces querem lógica e causos ao mesmo tempo, eu recomendo o blog do Rafael Galvão. Viu, nao falei? Já estou divagando. Por que é que eu ia dizendo isso mesmo? Ah, já sei:
É porque a Wilma veio aqui e comentou que é tao estranho isso, de ficarmos conversando com alguem que nem conhecemos, pessoas tão distantes e desconhecidas... É mesmo, Wilma, esse mundo é tão doido. Só Deus mesmo. Ah, sabia que uma coisa tinha a ver com a outra...

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Se existe uma coisa capaz de me tirar do sério, essa coisa é um mosquito. E para minha tristeza, tenho ouvidos extremamente sensíveis a esse inseto chato: sou capaz de ouvir um zumbido irritante mesmo estando na sala, que fica na parte de cima da casa, e o infeliz aqui em baixo. Foi o que aconteceu hoje: o dia foi lindo, chegamos a 14°C, com sol e tudo. Escancarei a janela, deitei no sofá, abri meu livro e pronto, acabou o sossego: sou capaz de ler concentradamente com alguem tocando tuba do meu lado, mas mosquito zumbindo, nao dá, é muita tortura.
Eu nunca vi bichinho mais resistente; gastei muito do meu Vandal - o Baygon daqui. Espero nao ter problemas com a Sociedade Protetora dos Animais. E o pior é que o danado só morreu depois de uns quinze minutos. Mas morreu. Bem feito. Palhaço.

10.15.2004

E não há nada de novo debaixo do sol...

1 Palavras do Eclesiastes, filho de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade de vaidades, diz o Eclesiastes; vaidade de vaidades, tudo é vaidade.
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?
4 Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre.
5 O sol nasce, e o sol se põe, e corre de volta ao seu lugar donde nasce.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos.
7 Todos os ribeiros vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios correm, para ali continuam a correr.
8 Todas as coisas estão cheias de cansaço; ninguém o pode exprimir: os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? ela já existiu nos séculos que foram antes de nós.


1 Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;
4 tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
6 tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
7 tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8 tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.

15 O que é, já existiu; e o que há de ser, também já existiu; e Deus procura de novo o que ja se passou.



Outono
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Inverno
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Primavera
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10.13.2004

Vida de Imigrante

A Áustria, como se sabe, não é lá muito simpática com sseus imigrantes . Apesar disto, dá para ressalvar iniciativas boas. Uma delas é o projeto KISS (Kommunikation, Integration, soziale Kompetenz e Sprachentrainig), que aqui em Graz, funciona numa parceria entre o que vou chamar de “Conselho Municipal” e o BFI, uma instituição privada.
O KISS é voltado apenas para mulheres imigrantes. E é grátis. Há desde relativas novatas como eu, que moro aqui há dezesseis meses, até mulheres como Angelika, da Croácia, que já está aqui há quinze anos. Nas sextas feiras, nos reunimos para um bate-papo: conversamos sobre as singularidades entre culturas e países, nossas dificuldades aqui, com a língua, os costumes, a cultura, a comida, a temperatura, enfim, falamos sobre o que há para rir e para chorar. Também recebemos noções básicas, que de outro modo, se custa muito a aprender: onde se vacinar contra sei lá o quê, quais os documentos que preciso e para quê, onde procurar os direitos do consumidor, onde conseguir creche para os filhos, os hospitais que existem e quais as especialidades etc, etc. É também a oportunidade de treinar a língua sem constrangimentos. Nos sábados, tratamos de temas mais específicos. Uma psicóloga ou assistente social discute conosco coisas do tipo:”como superar conflitos”, “como manter a auto-estima “,“como se apresentar para uma entrevista de emprego”, “como escrever uma carta de apresentação e um curriculum”, como passar uma boa impressão ao telefone”, e mais uma dezena de assuntos que são tão simples em português - soa até ridículo -, mas que aqui, já me levaram às lágrimas de desespero – e muito mais de uma vez.
Ás vezes me sinto burra total, a auto-estima vai muuuuuito lá pra baixo; eu, que sempre me achei inteligente e articulada, fico me sentindo agiu (A Grande Imbecil do Universo). Porque desconheço os códigos, porque ainda não domino a língua, porque ainda não me ambientei, porque tenho medo de estar fazendo algo proibido por pura ignorância de regras que me são alheias, etc, etc, etc. Para mim o KISS funciona como válvula de escape, terapia, ambiente de comparação, crescimento e estímulo. Eu me sinto melhor ao perceber que muitas das neuras que tenho aqui não são só minhas, que é um processo normal de quem deixa suas raízes e ainda não as tem firme em outra terra, é uma conquista gradual de espaço e segurança. Se é assistencialismo? Que seja. Alguém tem que ajudar com a terapia...

Outra coisa legal é que no KISS discutimos sobre nossa condição aqui, traçando paralelos com nossos países de origem. E aí ficam patentes os clichés e a ignorância que temos sobre outras culturas e histórias: O Brasil, por exemplo, só é conhecido pelo Rio de Janeiro, samba e carnaval. Mais não existe (mentira, uma vez alguém comentou sobre a Amazónia). E foi assim que eu travei contato com mulheres do Afeganistão e soube que sim, elas tem permissão para trabalhar e estudar em muitos territórios– eu achava que era terminantemente proibido. Também convivi com adolescentes que respeitam o Ramadã por opção própria, sem forçação de barra por parte dos pais ou os mais velhos.
Tem as histórias comoventes também. Pena que eu não saiba traduzir em palavras as tantas situações que já presenciei. Uma delas aconteceu logo no 2. final de semana.
Manda, uma mulher da Bósnia, mora aqui a 15 anos. Alguma de nós perguntou algo sobre seu país e ela disse que não sabia, já que há mais de 10 anos nunca havia voltado lá. Perguntamos o porque, e ela disse que já não tem para onde voltar, e mais: já não tem vontade nenhuma de voltar: outras pessoas agora ocupam sua casa. Tudo o que ela deseja da Bósnia agora é esquecer. No grupo há uma mulher da Sérvia, com história parecida. E tudo o que ela quer é o contrario do que deseja Manda: apesar das histórias de dor, sofrimento e perdas com a guerra, ela não quer esquecer. Sua cidade agora faz parte de outro país. Mas continua sendo sua cidade. A emoção na sala era era absolutamente palpável enquanto as duas contavam como a guerra entre os dois países afetou suas vidas.
Tem a história da Juliet, que veio do Iraque: ela não pode telefonar para casa porque o cabo telefónico se estragou no tempo da guerra. Tem notícias dos irmãos cerca de uma vez por mês, quando eles conseguem ligar, e foi através deles que ficou sabendo que alguns amigos tinhas sido sequestrados.
Tem histórias de perda da auto-estima: a de uma mulher islâmica, que trabalhava como secretaria em seu país. Seu pai era médico e a mãe, professora. Aqui, tudo o que conseguiu foi lavar janelas para uma firma. Ao fim do primeiro dia, quando o encarregado perguntou se ela poderia fazer o serviço outras vezes, ela não conseguiu responder. Só chorou.
Tem histórias e histórias. A minha é uma delas. Outro dia eu conto. Por enquanto, agradeço publicamnte ao KiSS, a Birgit, a Roswitha, a Frau Cano - que não é do KISS, mas uma professora gente finérrima e de bom coração; e a outras pessoas que tem me ajudado a segurar a onda aqui.
Pensando bem, aqui tem muita gente boa.

10.12.2004

Help

Gente, alguem pode me explicar o por que de, quando eu abro o blog pelo Netscape ou pelo Ópera, tá tudo bonitinho em matéria de formatacao, os links aparecem ali do lado direito logo no alto da pagina, os ultimos post, tudo ok; mas quando eu abro o blog pelo Explorer tá tudo desconfigurado? Serio mesmo, se alguem puder ajudar essa mulher ignorante, será o portador de meus mais sinceros agradecimentos.

10.11.2004

Fernando Sabino

Que pesar, que dor que me deu no coração. Acabo de ler sobre a morte do Fernando Sabino, que já me deu tantas alegrias e prazer ao lê-lo. Fernando tinha um dom muito especial, que era o de me fazer sentir íntima de sua escrita; me fazia sonhar, e eu sonhava que era parte do grupo dos quatro Cavaleiros, me fazia acreditar que, em suas cartas estava falando também sobre a minha vida, e esses foi só um dos motivos porque gostei dele. Fernando, querido, estou puxando uma angústia danada por sua causa. Que bom que sua prosa continua. Mas que falta que você me faz.

10.10.2004

Mundo Pequeno

Que bacana!! Agora eu sou chique e estou lá no Mundo Pequeno. Noooossa, que legal!!

Outono, banalidades e afins

Escrevi nm dia desses que o dia amanheceu com nuvens cor de chumbo, sinal inequívoco de que iríamos ficar muito tempo sem ver o sol. Que mentiras deslavadas eu ando escrevendo por aqui! Tivemos até ontem uma espécie de veranico aqui na Áustria. O nome disso por essas plagas é “Altweibersommer”, que os mais gaiatos traduzem como “verão para mulheres velhas”, - mas eu, com essa elegância que me caracteriza, jamais escreveria uma coisa dessas no meu blog. E se alguém disser que leu isso aqui, não acreditem. - Pois é, mas voltando onde estávamos, hoje a chuva veio farta. Primeiro bem cedo pela manhã. E então uma tarde abafada que me fez ter saudades do Rio de Janeiro. À tardinha chuva de novo. E frio. Agora, acho que é pra valer: o outono finalmente chegou.O que isso significa? Dias tristes, um céu pintado de cinza, pesado, denso, triste. Dessa vez, sem mentiras.


Da secão banalidades:

-Eu nunca vi uma barata aqui na Áustria. Sério mesmo. Nem cadáver de barata eu nunca vi, daqueles que ficam só a casquinha seca. Eu fico encasquetada com isso, porque sempre li que esses animais, ops, insetos, sao os seres mais resistentes do planeta, tem extrema capacidade de adaptação, resistem até à radiacão provocada pela bomba atômica, etc, etc. Seria tudo isso um blá-blá.blá? Como explicar que as baratas tenham desaparecido da Áustria? Estou desenvolvendo a teoria da conspiração baratal, mas por falta de argumentos sólidos, vou dormir antes de pensar mais seriamente no assunto. Antes disso, preciso dizer pra Nandinha, minha irmazinha com pavor de baratas: vem me visitar, irmazinha. Fora n%zist&s e outros bichos, o país é inofensivo.

10.07.2004

A vida como ela é

Já contei pra voce que em inglês, eu não sei falar nem I love you? É eu não sabia. Mas meus problemas acabaram e nao tem nada a ver com a Organização Tabajaras: resolvi frequentar o curso de inglês. A 1. aula foi essa semana, e qual não foi minha satisfação e surpresa ao perceber que estava entendendo tudo, absolutamente tudo o que a professora dizia…quando ela falava em alemão. Bem, como já dizia mamãe, não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe. A noitinha fui pra aula de latim (é, eu TENHO que estudar latim, que é pressuposto para filosofia, e se alguém rir, eu taco pedra!). Lá vou eu para minha 1. incursão na universidade e, para minha satisfação e surpresa, percebi que estava entendendo tudo, absolutamente tudo o que a professora dizia…quando ela deixava o alemão e falava em latim. É meus amigos, é da vida.
E mais não digo.

10.03.2004

Versinhos

Hoje amanheci criando versinhos sublimes como esses:

Depressão rima com menstruação
Uma não se vai, outra também não
Se eu me chamasse Raimundo,
Seria uma rima, não uma solução.
Menstruação rima com depressão
Uma vem, outra vem também
Isso acontece todo mês
Em nome do Pai, Esp`rito Santo
Amem.

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Aí, uma coisa puxa a outra foi só eu pensar no Drummond e me deu uma vontade desesperada de ler o “Rosário de Minas – Memórias e Sugestões”, de Octavio Mello Alvarenga. Meu Deus, meu Deus, eu pre-ci-so ler este livro. Vou apelar e copiar descaradamente a tática do Alexandre:: Ninguem quer me dar o livro de presente???Bom, perguntar não ofende, né gente?? Na lista de desejos urgentes tambem estão: "Como e por que ler os Clássicos", da Ana Maria Machado, e "Como e por que Ler o Romance Brsileiro, da Marisa Lajolo. Fica aí o pedido de uma pobre mulher carente de leitura.E é capaz até da depressão ir embora...

10.02.2004

Tornando o Mundo Mais Bonito

O iogurte de que eu gosto é fabricado pela NÖM (www.noem.at). A embalagem é uma graça, vem com umas fadas, assim sabe? Se você não sabe, imagine. Tem sabores Amarena-Amêndoa, Cappuccino, Baccio, Tiramusi, Maçã-Canela, hmmm, muito bom. Mas o mais legal, é que a embalagem é um copinho de plástico envolto num papel onde está escrito: “Wir von NÖM bitten Sie: Schonen Sie die Umwelt. Entsorgen Sie Becher und papier getrennt.”
Quer dizer mais ou menos assim:”Nós da NÖM pedimos ao senhor: Cuide do meio-ambiente. Descarte o papel e o copinho separadamente.” O povo daqui já pratica quase que automaticamente a reciclagem, cada esquina, rua ou conjunto de prédios tem coletores de lixo específicos. Mas a iniciativa da NÖM é bacana de qualquer modo. Pelo menos neste sentido, a Europa está realmente no 1. Mundo.

Ontem, ao comprar o iogurte, me lembrei dessa reportagem já antiga, mas com tema atual, que o Marcos Correa de Sá publicou em 29/02/2004 lá no No Minimo:

Madeira plástica tem que ser de lei

29.02.2004 | Calma. O planeta ainda não chegou ao ponto de lhe pedir para mobiliar a casa com madeira plástica. Mas está ficando difícil explicar por que ainda é preciso derrubar árvores para fazer banco de jardim, mesa de varanda, mourão de cerca, caibro de telhado, estaca de píer ou deque de piscina. Tudo isso já se pode ter sem ligar a motosserra, com ripas que vêm do lixo, em vez de serem arrancadas das florestas.

E às vezes o que é feito com ela sai até melhor do que se fazia antes, como acontece com os dormentes. Nesse caso, posta sob as linhas ferroviárias, onde as toras clássica de eucalipto, encharcadas de creosoto, porejam ao longo de sua vida útil um veneno capaz de contaminar o solo, a madeira plástica brilha como trilhos, indicando o caminho por onde certamente correrão as estradas de ferro do futuro.

É que, ao contrário da madeira natural, a plástica vem de fábrica imunizada contra fungos, cupins e outras pragas. Dura, deixada ao tempo, pelo menos 50 anos, sem aditivos tóxicos. Resiste a cargas de até 80 toneladas, que reduziriam dormentes convencionais a maços de farpas. E amortece as vibrações que esmerilham os rolamentos dos trens, coisa que um bloco de concreto não consegue.

Mas o melhor é que a madeira plástica é feita de frascos, garrafas, copos descartáveis, embalagens e outros fantasmas de poliolefina que poluem a xepa urbana. Sobretudo no Brasil, onde 76% dos resíduos são jogados a céu aberto e a nata de PET que bóia na Baía de Guanabara tem sido o indício mais persuasivo de que o programa de despoluição botou fora onze anos e US$ 800 milhões de dólares.

Ver a madeira plástica brotar como pasta de bisnaga – com forma, textura e até cor da madeira verdade – do caldo de entulho petroquímico digerido pela máquina parece mágica até para quem aposta pesado nesse novo trunfo da reciclagem. “Sempre que ela sai do molde eu me impressiono como da primeira vez”, diz Geraldo Pilz, que fabrica por semana três toneladas de madeira alternativa na Baixada Fluminense.

Ele é dono da Cogumelo, uma fábrica de perfis em fibra de vidro plantada em Campo Grande, a antiga Zona Rural do Rio de Janeiro. Pilz tem 65 anos. Sua fábrica, 31. Mas ambos ainda vivem correndo atrás de atrás de novidades. Ele é aquele tipo de empresário que conversa com a mão no ombro do funcionário, “para ele relaxar”. Formou-se em economia, mas vai logo avisando que não tem nem quis ter M.B.A., o diploma americano de mestrado em administração que se traduz em português por altos salários em administração de empresas. “Eu só tenho T.B.C.”, declara.

T.B.C. quer dizer: “Tire a Bunda da Cadeira”. É o mesmo diploma que ele cobrou do filho, para quem vai agora passando aos poucos as rédeas da empresa. Daniel Pilz nasceu no mesmo ano da Cogumelo, fez em desenho industrial. Foi campeão sul-americano de wind-surf e andou metido com pára-quedismo e vôo-livre. Estava quase se profissionalizando em esportes radicais quando o pai o chamou da Austrália para cursar o T.B.C. em Campo Grande.

Chamar a Cogumelo de empresa familiar é eufemismo. Além de Daniel, Áurea, a mulher de Geraldo, trabalha na administração da fábrica. Os três têm o hábito de chegar cedo e sair, comer de bandejão e encaixar visitas a clientes em viagens de recreio. O filho, nos fins de semana, veste a camiseta da firma e carrega sempre em cima do carro, um Land Rover, as escadas de alumínio e fibra de vidro que foram o penúltimo lançamento da fábrica, antes da madeira plástica.

É um modo de mostrar ao mundo que ela existe. Essas escadas desembarcaram no Brasil há poucos anos. Ao resolver produzi-las aqui, com licença da Werner Ladders americana, Pilz foi visitar pessoalmente velhos fabricantes de escadas de madeira no mercado nacional, para lhes falar das excelências do similar em liga leve. Queria, na época, oferecer-lhes a matéria-prima. “Mas eles me puseram para correr e não tive outro jeito senão fabricar eu mesmo as escadas”, conta Pilz. Dispensado como fornecedor, tornou-se concorrente da indústria tradicional e acabou por lhes tomar grandes clientes, como companhias de eletricidade, telefônicas e até bombeiros.


Aliás, “a vantagem de circular com essas escadas na capota é que as pessoas pensam que meu carro é da Telerj”, explica Daniel. Em teoria, assaltantes não se interessam por carros da Telerj. Na prática, a família inteira se comporta como propaganda ambulante da Cogumelo, que originalmente se especializava em produtos mais ou menos obscuros, como cabos, tubos, grades e outros produtos de uso industrial.

Oficialmente, ela se apresenta como uma fábrica de “pultrudados”. Mas não adianta procurar no dicionário. A palavra não existe. É um neologismo estritamente técnico, trazido diretamente do inglês para batizar o processo contínuo de modelagem da fibra de vidro em formas quentes. Trata-se, em resumo, de uma variante patenteada da extrusão. Nos primeiros tempos, dava um trabalho danado explicar aos leigos o que vinha a ser aquele “pultrudado” impresso no logotipo da firma, cada vez que Daniel parava o Land Rover em estacionamentos públicos.

Com tais antecedentes, vender madeira plástica num país que ainda não começou a comprá-la é o de menos para os Pilz. Não é a primeira vez que eles promovem soluções para problemas que não parecem incomodar os brasileiros. A própria Cogumelo só está aí porque, trinta e tantos anos atrás, Geraldo Pilz se rebelou contra o conteúdo das caixas de componentes importados que costumava abrir na Caterpillar da Bahia. Era então gerente de peças. E não entendia por que o Brasil deveria que trazer do exterior bugigangas que qualquer país é capaz de fazer, como “tijolo de ferro com um furo no meio” ou lâmpada G&E para trator Caterpillar.

De tanto dicsutir, mudou-se para a Sotreq, no Rio de Janeiro. Onde continuou recebendo os mesmos contêineres com as mesmas encomendas. “Não era isso que eu queria fazer na vida”, ele alega. Demitiu-se, pegou o fundo de garantia e, “com a cara, a coragem e a mulher grávida”, fundou em 1972 a Indústria de Componentes de Tratores Ltda. Era um oficina de fundo de quintal. Fazia tetos em fibra de vidro para trator porque, naquele tempo, “tratorista tinha que trabalhar num banco aberto, cozinhando ao sol”.

O produto emplacou. Emplacou tanto que, na virada dos anos 80, todos tratores nacionais passaram a sair da linha de montagem com tetos iguais ao seu, mas feitos pelas grandes marcas. A fabriqueta de Pilz foi à lona. Chegara a fazer 80 cabines por dia. Estava reduzida a meia dúzia. E, para piorar as coisas, o proprietário tinha brigado com os antigos clientes, processando-os por abuso de poder econômico. Foi quando caiu nas mãos de Pilz uma revista técnica, contando que nos Estados Unidos já se faziam perfis em fibra de vidro pela tal da pultrusão.

“Fui na mesma hora para lá, bater na porta de quatro empresas, com meu inglês de índio”, ele lembra. “Numa delas, a da Pensilvânia, o sujeito que me recebeu estava usando botas. Eu me senti no lugar certo. Fomos almoçar. Pedi-lhe para comprar a tecnologia, mas não as máquinas, porque isso o Brasil podia fazer para mim. Ele topou e quis saber quando eu mandaria para meu engenheiro para o treinamento. Respondi que o engenheiro tinha que ser eu mesmo”.

Pagou o know-how em oito parcelas. Ao fechar o contrato não tinha dinheiro para a primeira prestação. Mas, no Rio, os funcionários se reuniram com Áurea e lhe ofereceram um crédito no valor do décimo-terceiro salário que tinham a receber. Dos 30 empregados que entraram nessa coleta, 15 trabalham até hoje na casa. Os outros só saíram aposentados.

Com o fiasco das cabines de tratores, ele tinha aprendido “que no Brasil a gente tem que diversificar, para resistir. Senão, quando vem uma crise, e aqui sempre vem uma crise, o empresário demite os funcionários que não tinham nada a ver com isso. Quem tem obrigação de prever a crise é o patrão”. Hoje, a Cogumelo funciona com 150 funcionários.

Pilz chegou à madeira plástica de tanto procurar opções conta os achaques do mercado. “Na ocasião, nem me passou pela cabeça que ela também tinha vantagens ambientais. Depois é que a ecologia me entrou no sangue. Mas estava mesmo era querendo um jeito de depender menos das multinacionais que me fornecem a matéria-prima. Fibra de vidro custa muito caro para o Brasil. Eu geralmente acompanho seu preço, comparando-o com a cotação do quilo de filé-mignon”.

O remédio estava na reciclagem de lixo. Pilz pôs o olho nas fábricas americanas que, nos anos 90, tiraram proveito da legislação ambientalista. Depois que as construtoras tiraram as mãos das últimas reservas públicas de cedro e sequóia, até madeireiras tradicionais, como a Georgia-Pacific e a Weyerhaeuser, deram para oferecer aos consumidores deques pré-fabricados em madeira plástica.

Pilz comprou a tecnologia de Scott Hauser, ex-sócio minoritário da U.S. Plastic Plumber, pioneira do ramo. E fez o serviço completo. Trouxe-o ao Brasil para ver como funciona a coleta de lixo no aterro sanitário de Gramacho, com crianças disputando espaço com urubus. “Sou da opinião que eles têm que conhecer nossos problemas”, diz ele. Também lhe ofereceu, neste verão, um mês de férias no Rio de Janeiro por conta da empresa, aproveitando sua presença aqui para dar os últimos retoques em sua máquina.

A Cogumelo sozinha. Sua madeira plástica não tem concorrência, exceto a que é feita, por processos meio artesanais, numa fazenda devotada à recuperação de drogados no interior de São Paulo. O problema é que o país mal sabe que ela existe. A começar pelos marceneiros. Ela pode ser furada, serrada, aparafusada e pregada como a madeira comum. Dispensa verniz. Vem tingida de fábrica, para sempre. Custa mais ou menos o mesmo que o metro quadrado de pinho. Sai da fábrica em vários calibres. E seu comprimento, como não tem relação com altura de árvore, só tem um limite: a capacidade que tem o cliente de transportá-la.

Então está tudo resolvido? “Não”, responde Pilz. Porque falta, como sempre, a parte do governo. “E não estou pedindo favor nenhum”, ele ressalva. Só quer que a lei descubra a madeira plástica. Nos Estados Unidos, ela pego graças aos dispositivos que inibem o desmatamento ou proíbem caminhões que transportam alimentos de usar prateleiras de compensado natural, sujeitas a rachadores que viram ninhos de fungos. Por por essas e outras, 25 fábricas americanas já fazem madeira plástica, produto que mal passou do décimo aniversário.

Aqui, a Cogumelo tem que montar bancos e mesas de jardim, para mostrar que a reciclagem funciona. Basta-lhe uma única máquina para suprir toda a demanda. Mas a Companhia Vale do Rio Doce encomendou, experimentalmente, os primeiros dois mil dormentes de madeira plástica. Dois mil dormentes dão um quilômetro de linha férrea. E consomem 160 toneladas de lixo plástico.

Quer saber o que isso significa? Multiplique a equação da CVRD pelos trilhos da rede ferroviária nacional. Ou por qualquer outra equação que troque por ela a madeira vegetal desperdiçada em portos, construção civil ou cercados. O resultado, conclui Geraldo Pilz, “é que a esta hora eu estaria cercado de concorrentes e pagando anúncios na televisão, pedindo para comprar a domicílio todo o lixo plástico que os cariocas quisessem me vender. Dava para buscá-lo de casa em casa. E ele sumiria de nossas cidades, como sumiu a lata de alumínio, desde que o Brasil resolveu reciclá-la”.

10.01.2004

Lembranças

Sempre me julguei uma mulher inteligente. Sempre fui uma mulher sem direção. Sempre fui uma mulher sem senso prático de direção. Por mais de uma vez, eu fui caminhar em Ipanema na direção do Leblon, e quando menos esperava, estava chegando em Copacabana. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.
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Quando eu era criança, queria ser hippie. Não sabia muito bem o que eram aqueles caras cabeludos, mas intuia que tinha algo a ver com a liberdade. Já na adolescência, fiquei dividida entre o socialismo, que acabou me ganhando, e esse mesmo mundo hippie. Apesar das evidências contrárias, não fui da esquerda festiva, como diziámos na época (puxa, como estou velha!), mas uma militante até bem orotdoxa de tendência trotsquista. Fui expulsa do PT nem sei mais em que ano, aliás, eu e toda a CS. Esta semana, tive saudades desse tempo, tantas coisas me vieram à lembrança: Eu morava com uns amigos: A Cláudia Simone, A Andréia e o Marcos Aurélio. Me lembro dele, dizendo: “- Antes de abrir a porta, só pelo som, eu já sei quem está em casa: Se estiver tocando Mercedes Sosa é a Felicia, se for Maria Bethânia é a Cláudia, se for o Djavan, é a Andréia.” E ele gostava de Clube da Esquina e Pink Floyd. Nossa, gente, nesse tempo ainda nem existia cd…Pois é, há anos não escutava a Mercedes Sosa, que voz linda que essa mulher tem! Peguei meu LP mais querido, não resisto e vou escrever para voces o que ela canta, na canção que adotei como sendo minha:

FUEGO EN ANYMANA

Dicen que yo, de solo estar
Fui apagandome
Como la luz lenta y azul
De un atardecer.
Piensan que estoy secando el sol
De la soledad
Que por estar en mi raiz
Ya no crezco mas.
Es que yo soy, esa que soy,
La misma nomas,
Mujer que va buscandose
En la eternidad.
Si es por saber de donde soy,
Soy de anymana.
Sepan los que no han sabido
Que no estoy de solo estar,
Que estoy parada en el grito
Bagualero del pujay.
Si yo me voy, conmigo ira
Todo lo que soy.
Lejos de mi, lejos de aqui,
Yo no sere yo.
Dejenme estar, de solo estar,
Viendo el sol volver.
Yo quiero ver en mi pais
El amanecer.
Soy pa' durar, como el maiz,
Simple y cereal.
Soy pa' durar, porque yo se
Pasar y pisar.
Si es por saber de donde soy
Soy de anymana.

Até hoje não sei o que é ser de anymana, mas que eu sou essa que sou, a mesma e não mais, mulher que vai buscando-se na eternidade, ah, essa sou eu mesma.

No meu aniversário, pensei tanto na minha mãe e no meu pai. E chorei.
O que é um blog? Querido diário, estou deprimida.

 
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