12.11.2004

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Acaba de ser confirmado pelos médicos austríacos: Yushchenko, líder e candidato da oposição na Ucrânia, foi realmente envenenado.
Fiquei sensibilizada com o drama pessoal desse homem, imagine, ser envenenado, que coisa mais impensavelmente fora de moda, tão fora de moda que nunca imaginei que alguém ousasse fazer isso com uma pessoa qualquer, quiçá com um político famoso.
O pior é a paranóia delirante em que ele deve estar vivendo. Coisas simples, como acordar e desejar müsli no café da manhã se tornam um verdadeiro drama. Por exemplo, ele olha detalhadamente a maçã e começa a ter pensamentos desconfiados a respeito: „Hmm, essa maçã não me parece muito saudável“. Então opta por um simples pão com café. Mas o pó de café pode ser mais perigoso do que aparenta, vai lá saber. Assim, ele decide tomar café na padaria do português Joaquim, imigrante há mais de 60 anos na Ucrânia, que o conhece desde que ele não era um político famoso. E quem poderá garantir que o português também não foi cooptado? Yushchenko decide então ir para um bairro desconhecido, fazer o desejejum num lugar qualquer onde ninguém pode imaginar que ele iria alguma vez. Mas como esquecer que os ucranianos estão ali, tete-a-tete com os russos, os melhores enxadristas do mundo, gente acostumada a raciocínios difíceis? Certamente que essa hipótese, todas as hipóteses já foram pensadas pelo inimigo.
Pronto, a paranóia está instaurada. Como se ver livre desse pesadelo? De qualquer modo, já se passaram mais de 18 horas desde a hora em que Yushchenko acordou, ele provavelmente desiste do café da manhã e começa a pensar no jantar. E o círculo está instaurado, o drama de ter que decidir o que comer e em quem confiar se repete.
Pensei em ajudar de alguma forma, e a única coisa que me ocorreu foi passar para ele o telefone daquela moça, jurada do Sílvio Santos. Não sei bem se era a Mara Maravilha ou Sol, a que só se alimenta de luz. É sério, viver em paranóia é fogo.

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