11.14.2004

PEQUENOS CHOQUES (...anotações de uma Visitante Distraída)

Quando fui à Veneza, vi pela primeira vez uma mulher com um diamante encravado (ou a gente escreve incrustado?) nos dentes. Fiquei estupefata e não parei mais de encará-la enquanto ela falava, sorria, ou simplesmente não fazia nada: Eu fiquei hipnotizada - sou caipira, uai, nunca tinha visto uma coisa daquelas. Fiquei pasma. Acho que a mulher chegou a desconfiar que eu estava a fim dela, tamanha a minha insistência em olhá-la. Mas eu não estava não, era assombro mesmo.

Recém chegada aqui, me lembro ainda do meu estranhamento ao ver outra mulher de salto alto, meias finas, tailleur e um vistoso colar de pérolas - indo para o trabalho, suponho - de bicicleta. Nossa, andar de bicicleta vestida desse jeito? Eu ainda não sabia que isso era comum. Também fiquei olhando, olhando, até a mulher sumir de vista. Escrevendo isso aqui, sobre ficar encarando a mulherada, começo a desconfiar que sou gay...Mas acho que não, foi o comentário da Antônia no post anterior que me fez lembrar desses e outros acontecimentos, que na verdade foram parte dos pequenos choques que sofri por conta da diferença cultural. Sobre bicicletas, a primeira vez que uma parou no sinal vermelho, ao lado do carro onde eu ia, perguntei ingenuamente:
-„ Ué, porque o moço da bicicleta também parou aqui na faixa?“.
-A resposta óbvia foi: „O sinal está fechado.“
- „O QUÊÊÊÊ?????“ e tome mais cara de assombro ao descobrir que os ciclistas também respeitam as leis de trânsito aqui, e podem ser multados caso a descumpram...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O título do post eu plagiei descaradamente do João Ubaldo Ribeiro, no „Um Brasileiro em Berlim“. Aliás, eu recomendo enfaticamente a quem quiser saber mais sobre a Áustria que leia esse livro. Calma, gente, eu sei que Berlim é na Alemanha. Mas várias situações que ele descreve lá são parecidíssimas com algumas que vivo aqui: a minha constante tendência a sofrer atropelamento por bicicletas (cometo sempre invasões involuntárias na faixa dos ciclistas); o olhar e a reação dos homens quando passa uma gostosona na rua (nenhuma reação visível); a famosa bandejinha para receber dinheiro que existe em muitos estabelecimentos; a língua alemã, que quase ninguém por aqui usa, - aliás, constato que quem melhor pode falar o alemão aqui somos nós, estrangeiros: o povo aqui só fala em dialeto; a tradicional comida austríaca: Kebab, pizza e afins.
Um único conselho, caro, mas que vai de graça, especialmente para quem mora na Áustria ou Alemanha e pretende ler o livro: leia-o na santa paz do seu lar, de preferência num recinto isolado, e nunca, mas nunca mesmo pense em lê-lo em locais públicos: você vai se escancarar de tanto dar gargalhadas, causando um escândalo de risadas não muito recomendável aqui por essas plagas...
ADENDO:Cruz Credo, que mancada: O diamante era cravejado, cravejado, cravejado...Ou será mesmo incrustado?

Nenhum comentário:

 
eXTReMe Tracker