6.24.2004

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Domingo, estarei indo para o Brasil. Voltarei, não voltarei? Saberei em breve (a resposta se relaciona com o prolongamento - ou não da minha licenca no TJ). No momento, torço e rezo absurdamente para obter a prorrogação e continuar aqui.
As pessoas tem relativa curiosidade em saber como é mudar de país, a adaptacão, a mudança da língua, como fica sua vida, etc. Para mim a resposta é que não tem resposta, não tem um guia, depende de quem você é como se relaciona com o mundo. Se for uma libriana como eu, vai depender diariamente de saber para onde se inclina a balança. Tem dias que estou bem aqui, tem dias que acho sacal. Já observei, e não é preciso ser muito esperto para perceber, que existe um clichê muito grande, quase uma aura em torno da expressão "morar no exterior". Os brasileiros - estou generalizando, tá gente?!- tem uma visao de quem mora aqui é incondicionalmente rico, tem tudo do bom e do melhor, a vida é maravilhosa, Veneza é logo ali, o Louvre não fica longe, Praga é o lugar mais lindo do mundo e fica logo ali pertinho, o europeu tem tudo isso a mão. Uai, verdade. Do mesmo modo que o carioca tem o Arpoador, niteroiense tem Itacoatiara, Volta Redonda fica perto de Visconde de Mauá, e o europeu se ressente, porque tudo o que é bonito “fica lá longe no Brasil.” Literalmente, questão de ponto de vista. A grama do vizinho sempre tende a ser mais verde que a nossa. E continuando com a generalização, os brasileiros acham que voce, estando aqui, tem a OBRIGAÇÃO de ser feliz, pelo simples fato de estar aqui. Acho que isso se relaciona um pouco com a nossa baixa auto-estima – ja disse que tô generalizando- que nos faz achar sempre que tudo o que vem do exterior é bom, perfeito, desenvolvido. Não, não é. Tem vantagens em morar aqui? Muitas. Pra começar, não tem Rosinha nem Garotinho, só isso já valeria a pena. Tem segurança; acho maravilhoso andar na rua sem medo de assaltos e balas perdidas, aliás essa é a nota mil daqui. A cidade é limpa, os serviços funcionam. E, maravilha, aprender outra língua é tudo de bom. Mas isso não é pressuposto de felicidade. Ou melhor, não é garantia de felicidade. Acho que a gente tem tendencia a misturar a garibada financeira com felicidade, mas acreditem, oscur nao tem nada a ver carscarça. E nem sempre quem sai do Brasil, vai vir pra cá e ficar no bem bom – aliás, esses são a minoria. Cai na real galera, clichê só em novela. Viver ´e batalhar, é querer crescer, se aprimorar, em qualquer lugar do mundo – a não ser que voce seja um parasita assumido, claro.
Sempre ouço tambem o seguinte: “Mas você é doida, mudar prum país tão longe, sem conhecer ninguém, é arriscar muito, voce nao tem medo, patati, patatá, etc, tarará”. Aí eu digo que tive um relativo medo sim, mas que já passei por uma mudança absolutamente pior, no sentido de traumática, que foi minha ida de VR pro Rio. Aí me dizem: “Mas mudar de VR pro Rio nao tem comparação, Volta Redonda é logo ali, só 2 horas, patati, patatá, etc, tarará”. Uai, mas a história de vida é minha né, gente? Eu é que sei o que foi traumático para mim, (aliás adonadoblog sou eu). Esse papo nao tem nada a ver com distância (e aliás também, Graz fica só a 13 horas do Rio), mas com sua forma de lidar com as mudanças. No meu caso, o Rio foi uma cidade hostil – ou eu me senti por muito tempo hostilizada-, onde fiquei sem amigos, meus primeiros conhecidos foram gente que só pensava em grana e se dar bem, o que voce vestia era muito mais importante do que o que voce pensava ou quem voce essencialmente era. Pra alguem recem-chegado do interior, com visao ainda ingenua, foi dose. Tá bom, depois (muito depois) conheci gente legal, e perdi o medo do Rio (mas por via das dúvidas, fui morar em Niterói, o que fez uma grande diferenca). Mas o estrago já estava feito, quer dizer, vim pra cá já meio cascuda. É bom ser cascuda? Eu nao acho. O melhor mesmo é aprender a despir as couraças, Mas isso seria exigir demais de mim mesma NESTE momento. Continuo cascuda, me protegendo aqui, e acho que ainda vai rolar um tempo até me sentir adaptada. Aliás, o papo comecou por um lado, me desviei e vou tentar costurar. O que não gosto particularmente aqui é justamente essa necessidade minha de andar o tempo todo na defensiva, Acho que isso é um pouco comum a todo estrangeiro (seja estrangeiro no Rio, falando a mesma língua mas desconhecendo os códigos, ou estrangeiro em Graz, desconhecendo ambos). Ou sei lá, fazendo uma comparacão ainda mais extensa – mas acho que tô viajando – é um sentimento comum a todo mundo que está vivo no planeta. Explico: voce vem pra cá (pro planeta), e fica o tempo todo querendo criar raízes. Isso não funciona só pra quem tá fora de seu país, esse negócio de criar couraças – como é mesmo o nome do autor do Ame e dê Vexame ? que vive falando disso. Tá viajei, deixa esse assunto pra lá e um final abrupto aqui.

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