4.24.2005

Elos e Corrente

O Manoel é um querido. Sim, não encontro expressão melhor para dizê-lo: um querido de marca maior, uma dessas felicidades que a internet me trouxe. Seu Agreste é um ponto de encontro e referencia da cultura nordestina, mas não só tanta: é parada obrigatória para se abastecer de simpatia. Sobre o Manoel, a Nora já falou aqui mais e muito melhor do que eu poderia. E como se não bastasse isso tudo, o Manoel ainda é pai da Flora...
Pois bem, foi ele quem me convidou para participar de uma corrente. Não, corrente não é o termo certo, eu fui convidada como parte de um elo, o elo agrestino, do qual me orgulho muito de participar. Transcrevo aqui as palavras dele, que explicam os motivos para ter aceito o convite, razões que são minhas também. E logo depois, minhas respostas:

Correntes e elos:
Por hábito, não participo de correntes.
Muitas delas são motivadas pela cobiça, alguns querem ganhar dinheiro em progressão geométrica; não alimento isto. Outras correntes são movidas pelo atraso, por superstições, das quais não compartilho; mantenho-me à distância. Ainda há correntes bem intencionadas, mas pouco práticas; uma delas visava a distribuição de livros, mas a dificuldade com remessas fazia muita gente desistir e a corrente era quebrada.
Atualmente, com o advento da internet, passou a existir um tipo de corrente cujos participantes nem se dão conta de que participam das mesmas; são avisos de vírus ou similares e resultam, às vezes, no fornecimento de endereços dos quais alguns inescrupulosos se apropriam.
Como prática, se me propõem uma corrente, respondo: — por favor, me inclua fora desta!
Após muitos anos, resolvi aceitar participar de uma corrente.
E o fiz por considerar que a mesma é prática e salutar.
Trata-se de propagação de uma entrevista sobre Literatura da Língua Portuguesa. As perguntas são sobre a relação do entrevistado, na condição de leitor, com a literatura.
E o fato de respondermos a estas perguntas, sem ameaçar a privacidade de cada um de nós, ajuda a revelar o perfil de cada um. É bom sabermos o que aqueles com os quais nos relacionamos lêem. Talvez outras perguntas pudessem ser formuladas, mas estas são básicas e, em se tratando de generalização, é melhor assim.
Devo responder às perguntas da entrevista, reproduzindo-a aqui. Ao mesmo tempo, devo indicar outras pessoas - no mínimo três. As pessoas indicadas por mim, caso aceitem, deverão fazer o mesmo que eu....
A seguir, a entrevista e as indicações.

Ex-Libris da Tugosfera

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
“Memorial do Convento”, de José Saramago.


Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem de ficção?
Sim, por duas mulheres: a primeira foi a Morgana, das Brumas de Avalon, pois caiu todo o mito da bruxa má. Foi um livro que li há mais de 14 anos atrás, e enxerguei Morgana apenas como mulher, com defeitos e virtudes. E uma coisa engraçada, não tem muito a ver com a pergunta, mas ela é também um personagem que tem rosto muito claro: na minha imaginação, a Morgana é a cara da Mercedes Soza, outra mulher que adoro (espero que fique claro que isso é um elogio a ambas).
A outra personagem, é Blimunda: uma Mulher que eu gostaria de ser, corajosa, luta, ama, se entrega, vai as portas da morte e sobrevive. Eu a imagino tão linda, tão forte, tão cheia de garra e sensível ao mesmo tempo. E o mais bonito é o jeito dela de amar: Blimunda e Baltasar se encontraram na juventude. E depois de vários anos juntos, já na velhice, há uma passagem do livro que reflete o quanto esse amor é intenso, não só por resistir à passagem dos anos, mas por Blimunda e Baltasar serem pessoas que "como são se vêem" : ”...e se temos à mão um espelho, Jesus, como o tempo passou, como eu me tornei velho...Baltasar não tem espelhos, a não ser estes nossos olhos que o estão vendo descer o caminho lamacento para a vila, e são eles que lhe dizem, Tens a barba cheia de brancas, Baltasar, tens a testa carregada de rugas, Baltasar, tens encorreado o pescoço, Baltasar, já te descaem os ombros, Baltasar, nem pareces o mesmo homem, Baltasar, mas isto é certamente defeito dos olhos que usamos, porque aí vem justamente uma mulher, e onde nós víamos um homem velho, vê ela um homem novo...ou nem sequer a esse vê, apenas a este homem que desce, sujo , canoso e maneta, Sete-sóis de alcunha, se a merece tanta canseira, mas é um constante sol para esta mulher, não por sempre brilhar, mas por existir tanto, escondido de nuvens, tapado de eclipses, mas vivo...” O motivo maior para eu amar Blimunda: ela é uma mulher que vê. Ela soube ver o amor e vivê-lo plenamente. Quem leu este livro sabe que isso é mais um clichê.


Qual foi o último livro que compraste?
Comprei “Bartebly & Co.” de Enrique Vila-Matas e o “Leviathan” de Paul Auster. Ainda não comecei a leitura de nenhum dos dois, e acho que vou demorar a ler, já que estão em alemão e nesta língua eu leio muito devagar.

Qual o último livro que leste?
Vou incluir na lista algumas leituras deste ano: Descobri Lobo Antunes e me apaixonei por ele: todo mundo merece ler este homem. Dele, “Fado Alexandrino”, “Os Cus de Judas”, “Manual dos Inquisidores” , A Explicação dos Pássaros”, falam não só das angústias e frustrações do próprio Lobo Antunes, ao retornar a Portugal depois da Guerra em Angola, como também mostram um retrato da própria Portugal, sua sociedade, sua imagem e auto-imagem, nem sempre condizentes entre si. Outro livro bom, mas que li na “hora errada” foi “Perdas e Ganhos”, da Lya Luft. Também li “Vivirla para Contarla” do Garcia Marquez, que apesar de auto-biográfico, alguns dizem ser um livro cheio de mentiras. Pois se são mentiras eu não sei, só sei que foram então invenções muito saborosas da cabeça do Garcia Marquez. E teve também “Histórias Fantásticas” de Bioy Casares, de quem nunca havia lido nada. Gostei muito. O que li e não gostei: “Os Sete Pecados Capitais”, contos escritos por diversos autores, e Vista del Amanecer en el Trópico”, do Cabrera Infante.


Que livros estás a ler?
No momento, estou com “La Muerte de Artemio Cruz”, do Carlos Fuentes e “Die geheimnisvolle Flamme der Königin Loana”, do Umberto Eco. Este último anda parado em função daquele, que se tornou prioridade por causa de uma apresentação no meu curso.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
O “Memorial do Convento”, com certeza, mas na verdade levaria todos os livros do Saramago, e só aí já seriam mais de cinco. Também levaria “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, bem como “Memorias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Há um livro do António Olinto, acho que se chama “Memoria da Água”, que eu levaria com prazer, e pelo que descobri do Lobo Antunes, levaria dele tudo o que ainda não li. Aqui ficam só autores da língua portuguesa.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e por quê?
Preciso dizer que o Manoel, alem de ser um querido, é também um fominha-:)...Pois não é ele passou a corrente para quase todas as pessoas do mundo virtual que eu pensaria em indicar?! E essas pessoas certamente fazem elo com a outra parte de amigos que ele não indicou... Então, vou indicar duas amigas do mundo “real”, Andreia e Virgínia. Uma e outra se interessam por livros e literatura, tenho certeza que virão respostas interessantes. A terceira pessoa é a Anna dona um blog que eu descobri recentemente e do quel gostei muito. Não a conheço bem, mas minha intuição me diz que tanto as perguntas interessarão à ela como as respostas interessarão a muita gente. Fica também o convite: quem quiser se apropriar da corrente e quiser levá-la adiante, é bem vindo ...
 
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